Animalização do Homem: uma 
        Visão Ontológica do Ser 
        Individual e do Ser Social... 
              
            Rogério Lacaz-Ruiz 
            Prof. Dr. FZEA/USP 
        e-mail roglruiz@usp.br 
            Vanessa Fernandes Corrêa 
            Acadêmica de Zootecnia FZEA/USP 
            Flávia de Almeida Tavares 
            Acad. Zoot. FZEA/USP 
        e-mail flavia@abelha.zoot.usp.br 
            Rodrigo de Almeida Scoton 
            Acadêmico de Zootecnia FZEA/USP 
              
            Em dois dias podemos saber tudo de
        um homem, 
        mas precisamos um pouco mais para conhecer um animal  
                                    
                (Provérbio Persa) 
            Todo ser age conforme é 
            (Adágio filosófico medieval) 
              
            Introdução 
             
                      A animalização do homem é
        um fenômeno que pode ser abordado de diferentes maneiras. Desde a consideração do homem
        que é animalizado por realizar atos não humanos até àqueles que são tratados pela
        sociedade como animais, passando pela animalização na forma de fábulas ou das
        histórias em quadrinhos. Um outro aspecto que vale a pena considerar é o de abordar os
        animais com os critérios humanos; projetar atitudes e sentimentos humanos no animal. 
                      Quando o
        homem livremente se animaliza pelos seus atos é possível considerá-lo como um doente
        para si e para a sociedade. Neste caso, ele é classificado como um doente e a síndrome
        que o acomete bem merece um estudo especializado. O homem que é animalizado pela
        sociedade, o famoso "excluído", merece o resgate de sua dignidade. As fábulas
        exprimem o sentimento humano de forma atenuada pela fala animal. Algo semelhante aparece
        nas histórias em quadrinhos. Colocar sentimentos humanos nos animais, seria fazer algo
        semelhante a um transplante de cabeças. 
                      Em sentido
        biológico, o homem não é o ser mais valioso da natureza. Se tomamos como critério a
        forma biológica, a independência do existir, o homem resulta inferior às plantas e aos
        outros animais. As plantas ocupam o cume da independência dos seres vivos. A nutrição
        dos animais depende dos organismos vegetais. E dentro do reino animal o homem é o menos
        independente de todos. Se o valor vital fosse a única medida de valor, seria preciso
        reconhecer que o homem seria um animal doente. 
                      Sua
        fraqueza é evidente: seu sentido do olfato é dos mais imperfeitos, sua proteção
        natural contra o frio é praticamente nula, etc. O homem ao nascer, é a espécie animal
        doméstica, que carece de muitos cuidados, e por períodos prolongados, quando comparado
        com os demais mamíferos. Nesta fase, seu choro é praticamente a única forma de
        comunicação com os outros seres da sua espécie. Os outros animais, são bastante
        distintos. Logo que nascem, as crias começam a caminhar, e em poucos meses tem os mesmos
        hábitos, inclusive alimentares, dos pais. As crianças dependem dos pais; enquanto
        adolescentes, convivem com os pais. A maturidade, as vezes custa a chegar, e a velhice,
        não tarda.(Guardini, 1990). Mesmo em seus atributos específicos encontramos, por
        exemplo, que a memória vai se perdendo pela escrita e pelo impresso, que a civilização
        cria para o homem mais necessidades e doenças do que ele é capaz de satisfazer e curar.  
                      Porém,
        para suprir sua impotência animal, o homem procede com mais inteligência e prudência
        que o tigre: o que se teme não é que a espécie desapareça (como seria de esperar do
        ponto de vista da mera aptidão animal para a sobrevivência), mas que cresça em excesso.
        Biologicamente o homem continua sendo um animal. Por um lado diminuído e doente, por
        outro aumentado em sua dignidade. A liberdade não é apenas um privilégio, mas uma prova
        disto. Podemos subir a escada do espírito, ou descer pela vertente de nossa animalidade
        frustrada, que definitivamente leva ao nada. 
                      Desde que o
        homem foi classificado como ser vivo por Aristóteles, ele estava no Reino dos Animais. O
        mesmo o fizeram os que sucederam nesta tarefa taxionômica: Linnaeus (1735), Haeckel
        (1866), Copeland (1934) e Whittaker (1969). O homem, se considerado do ponto de vista
        biológico, é um animal. 
             
        O conceito de animalização 
             
                      O dicionário Aurélio recolhe
            animalizar como sinônimo de tornar bruto, embrutecer, bestializar. A Encyclopedia
        e Diccionario Internacional de W.M. Jackson, Inc. Editores, (Rio de Janeiro), recolhe
        o verbete animalisar (sic) no seu vol. I: "Reduzir aos
        instintos, aos appetites, aos gostos do animal; o philosophismo animalisa o
        homem; a religião divinisa-o/ por ext. Rebaixar-se, descer ao estado animal: Entregar-se
        as paixões brutas é, a bem dizer, animalisar-se." Por mais que um ser humano
        tenha apreço pelos animais, jamais gostaria de ver seus atos classificados como os de um
        animal. Se um homem pode atingir este estado de animalização, nada mais oportuno que
        considerar este fenômeno uma "doença". (Naturalmente, o fato recente da gíria
        "animal!" com valoração positiva é mais um exemplo do conhecido fenômeno -
        descrito por C. S. Lewis - de inversão da polaridade: o negativo pode significar
        positivo: o mesmo ocorreu com "tremendo", "formidável",
        "fantástico" etc.). 
             
        Questionamentos e comentários 
             
                      Qual o alcance e o significado
        dessa triste possibilidade de animalização? Onde fica a liberdade humana? Quais as
        conseqüências do ponto de vista individual e social? Um animal diferente é o homem,
        pois tem a capacidade de se considerar como uma entidade independente, de lembrar o
        passado e visualizar o futuro, de usar sua razão para compreender e conceber o mundo,
        indicar objetos e atos por meio de símbolos e valer-se de sua imaginação.  
                      Quanta
        fragilidade existe no homem! Ao nascer, carece de um protocolo vinculado a sua
        existência, que regulamente o processo de adaptação ao mundo que o rodeia. Não sabe
        porque nasce, ou quando vai morrer; custa a saber quem é e o que faz neste mundo. Pascal
        chega a afirmar que a vida se resume a conhecer quem somos e quem é nosso Criador. O
        homem enfim é livre e se alegra com este dom; a própria liberdade também é para ele
        fonte de angústia. 
                      Os animais
        parecem ser mais livres, despreocupados e senhores de si mesmos. Parecem que estão sempre
        seguros de seus atos. Se por um lado isto parece ser uma visão antropomórfica (ou mesmo
        dos seriados televisivos do humor inglês); por outro, os animais tem uma razão para
        serem assim vistos pelo homem. Sua bagagem instintiva, seu protocolo vinculado a sua
        existência, é rígido. Todo homem é um animal, mas todo animal não é homem.  
                      No
        "Prefácio" do livro Ética social e governamental, Lauand (1997)
        comenta: "Esse drama fundamental ético-existencial do homem transcende o âmbito da
        filosofia acadêmica e atinge a arte popular: é apresentado até numa recente canção,
        uma das mais inpiradas páginas de Milton Nascimento, Yauaretê (canção-título
        do álbum de mesmo nome). Inspirada no conto de mesmo título de autoria de João
        Guimarães Rosa.  
                      Nesta
        canção, o homem dialoga com a onça yauaretê (o autor explica que o sufixo -etê, em
        tupi, significa o máximo, "de verdade", plenitude) pedindo-lhe - a ela que já
        atingiu o máximo de seu ser-onça: yauar-eté - que lhe ensine o
        correspondente ser-homem. E aí se retoma todo o problema ético, de Platão a Sartre: o
        que é verdadeiramente ser homem? Maria, a onça yauaretê, já realizou a plenitude do
        ser-onça (que se resume na "sina de sangrar") e o poeta, entre perplexo e
        invejoso, pergunta-lhe: E o que é ser homem? Entre outros versos de profunda sintonia com
        o pensamento clássico, diz a canção: "Senhora do fogo, Maria, Maria/Onça
        verdadeira me ensina a ser realmente o que sou (...)/Vem contar o que fui, me mostra meu
        mundo/Quero ser yauaretê/Meu parente, minha gente, cadê a família onde eu nasci?/Cadê
        meu começo, cadê meu destino e fim?/ Pra que eu estou aqui? (...)/Dama de fogo, Maria,
        Maria/Onça de verdade, quero ter a luz (...)/Me diz quem sou, me diz quem foi/Me ensina a
        viver meu destino/Me mostra meu mundo/Quem era que eu sou?" Que devo fazer para ser
        homem em plenitude, abaeté? Qual é a areté, a excelência, a virtude
        específica do humano?" 
             
        Os animais antropomorfizados 
             
                      Um antigo conto diz, que no
        passado os animais falavam; mas perceberam que era melhor calar e assim permanecem até os
        nossos dias. As fábulas de um Raimundo Lúlio ou de um La Fontaine, sempre foram
        consideradas como uma forma amena de expressar algo que poderia ser incômodo, caso fosse
        dito com nome; e sobrenome. Os cartunistas como Bill Waterson e Fernando Gonzales, seguem
        em suas tiras de jornal, ensinando nas palavras proferidas pelos animais, lições de
        vida. A antiqüíssima tradição crítica das fábulas de animais tem um representante
        atual na obra prima de Orwell: A revolução dos bichos. Os provérbios - também
        eles valem-se dos animais - são outra fonte inesgotável de resgate da personalidade
        humana. O conhecido "Cão que ladra não morde" pode significar que este
        cão, que está latindo tanto, não morde, mas principalmente alude às pessoas que
        ameaçam muito e não fazem.  
                      Também as
        piadas - que quando forem contadas para ganhar mais graça podem ser anunciadas como uma
        história - mostram o binômio homem-animal de forma lúdica. Vale o exemplo do engenheiro
        de estradas que após vários dias de medição para fazer o melhor traçado de uma
        rodovia, foi abordado por um camponês, que perguntou. - Doutor, por quê o senhor está
        há tantos dias a medir este morro. O engenheiro explicou em linguagem simples a
        importância das curvas de nível. O homem do campo retrucou: - Mas para isto nós usamos
        o jumento, que é tão cuidadoso, e por onde ele passa, colocamos uma estaca e então
        fazemos a estrada. O doutor não gostou muito, e em tom de desaforo retrucou: - É meu
        caro, e o que vocês fazem quando não tem o jumento? - Chamamos um engenheiro...!  
                      Todos os
        exemplos citados, tiram o equilíbrio ou a máscara dos seres humanos. A ironia, a farsa,
        a hipocrisia, a inveja, a fuga de si mesmo, estão nos ensinamentos dos animais
        antropomorfizados. A figura do Coelho com um despertador na mão, na obra Alice no
        País das Maravilhas de Lewis Carrol, retrata bem aqueles que sempre dizem "tenho
        pressa", que não tem tempo para pensar, e ainda chegam atrasados! 
                      E os
        animais seguem seu destino, seu rumo, seu caminho, seu norte; seguros, pois tem um
        instinto que os torna previsíveis e passíveis de estudo. Quanto mais complexo e rígido
        for o equipamento instintivo dos animais, menor será sua capacidade de aprendizagem e
        menos desenvolvido será seu cérebro. O que torna os animais seguros, aos nossos olhos,
        é seu rígido instinto. Os estudos do ser humano, começam pela filosofia e abarcam uma
        série de ciências: a antropologia, a sociologia, a psicologia, e cada uma delas com
        tantas ramificações e escolas. É difícil descrever o ser humano com a mesma clareza
        contida num manual de biologia. 
                      A razão, a
        benção do homem, também é a sua maldição; ela o força a resolver incessantemente a
        sua insolúvel dicotomia. A existência humana, nisto difere da de todos os outros
        organismos; acha-se em um estado de desequilíbrio constante e inevitável. Ele não pode
        voltar ao estado pré-humano de harmonia com a natureza; tem que prosseguir para
        desenvolver sua razão até que se torne senhor da natureza de si mesmo. 
                      Na
        literatura brasileira, em Vidas Secas de Graciliano Ramos, podemos ver aonde chega
        o pensamento humano do poeta e escritor. Massaud Moisés (1997) analisa o binômio
        homem-animal, dentro de uma situação de penúria, infra humana: "A tendência à
        introspecção é outro aspecto desta originalidade. O narrador lança mão de freqüentes
        monólogos interiores para suprir a falta de comunicação entre os retirantes e para lhes
        evidenciar a indigência verbal. O foco localiza-se mais na sua vida íntima que nas suas
        ações, ou porque irrelevantes, ou porque revelam monotonia de vidas sem desígnio,
        vergadas ao fatalismo do meio e ao arbítrio de homens despóticos. E quando esboçam
        alguma reação, logo se embrenham no cipoal das suas elucubrações. Nem mesmo as
        crianças escapam dessa fuga interior; a própria cachorra parece dotada de pensamentos.
        "Será que há mesmo alma em cachorro?", indaga Fabiano. Em suma, Graciliano
        procurava "estudar o interior de uma cachorra" como confessa nas Cartas
        (1988, p.194-5). O pendor para a devassa psicológica, que lhe caracteriza a ficção,
        está patente em Vidas Secas, apesar de toda a aparência contrária. A
        humanização da cachorra e do papagaio, assim como a animalização dos flagelados, já
        anotada pela crítica, é decorrência imediata." (Moisés, 1997) Neste contínuo ir
        e vir do homem e dos animais onde uma vida seca é uma vida infra-humana, há confusão do
        homem com o animal. Alguém "sem desígnio" é rebaixado a um animal, e o animal
        "fiel" nesta caminhada é humanizado. 
                      Até há
        pouco tempo, a antropologia considerava o ser humano na simples condição de animal. E
        não temos dúvida de que o homem é também um animal. Sua morfofisiologia manifesta este
        fato de maneira inequívoca. Portanto, o lógico é aceitar a situação e não acreditar
        que somos algo assim como espécies de espíritos angélicos forçados a viver com uma
        certa roupagem corporal. Mas também é igualmente certo que por mais animais que sejamos,
        a coisa não chega a tanto que resulte inevitável o pessimismo de ter que abdicar,
        "humildemente" de nossa categoria de pessoas. Por isso, diante da abusiva
        solidariedade que alguns mostram com os animais, pode ser oportuno lembrar da estória do
        diálogo entre o pessimista e o filósofo. Aquele disse - Não somos ninguém. Isto foi
        suficiente para que o segundo retrucasse: - Especialmente você, meu caro... 
                      A história
        dos esforços que foram feitos para animalizar o ser humano, tem como pano de fundo algo
        insuspeitavelmente irônico e divertido. Descobriu-se, há pouco, a nova antropologia (1).
        De fato, ela pôde comprovar que o método que vinha sendo utilizado para estudar de forma
        neutra e objetiva ao homem e ao animal, não era tão neutra e objetiva como se havia
        proclamado. Pelo contrário, este método estava saturado de idéias e noções bem
        significativas e expressivas da existência humana. Certamente os antigos antropólogos
        souberam evitar a noção de espírito e de outras que resultavam, no mínimo, suspeitas.
        Por este ângulo não há nenhuma objeção. Mas em troca, foram demasiadamente
        favoráveis a vida dos animais, atribuindo a eles um tipo de ordenamento social,
        sanções, hierarquia e ritual e outros conceitos parecidos. Daí resulta que a
        simplicidade do método empregado foi apenas aparente, e que portanto, o que se vinha
        fazendo era um círculo vicioso: para explicar o ser humano com os modelos da vida animal,
        se começava por introduzir nestas categorias correspondentes a vida do homem. 
                      A
        antropologia deste século, voltou a encontrar o homem, tirando-o do zoológico onde o
        haviam colocado cientificamente no século passado. Recuperou simplesmente a
        presumível animalização do ser humano, que não havia sido outra coisa além de uma
        humanização do animal. Ao estudar o ritual dos animais e se tentar tirar algumas
        conclusões do comportamento humano, estas podem ser muito interessantes se não se perde
        o ponto de vista, de que o que se faz é aplicar ao comportamento animal a idéia que o
        ritual já tem o homem a partir da religião e dos costumes sociais; isto é que já
        partimos de uma noção humana. 
             
        Homens animalizados 
             
                      Animalizar, é colocar o homem
        nesta galeria pré-humana, que na realidade nunca existiu. As comparações, quando
        envolvem seres humanos, costumam ser deletérias para o convívio social. Se alguém
        infelizmente já presenciou o início de uma inimizade entre duas pessoas, pode reparar
        que esta começou com uma maledicente comparação; e quem fala mal dos outros, fala mal
        de si mesmo. Mas quando se compara o homem a um animal, quer dizer que ele se animalizou.  
                      Vale
        lembrar que o homem tem a razão predominando sobre o instinto, e o animal só o instinto.
        Se o animal faz algo, o faz por instinto, mas se o homem deixa de usar a razão, como seu
        instinto é rudimentar, ele faz algo que não é próprio do homem. Animalizar é um
        eufemismo, pois infelizmente ele reduziu seu atuar a um reflexo, com algo que tem de mais
        precário: seus instintos. 
             
        Considerações finais 
             
                      A personalidade individual do
        homem é embasada nas particularidades da existência humana, comum a todos os homens.
        Como dizíamos, a debilidade biológica do homem é evidente. E quando o homem deixa de
        raciocinar e não usufrui de sua inteligência, ele passa a equiparar-se aos animais,
        voltando a um nível inferior de desenvolvimento, tendo suas reações baseadas apenas em
        instintos; que são escassos. 
                      A vontade,
        a inclinação humana, tem por objeto formal o bem. Só acidentalmente quer o mal; porque
        o seu entendimento o capta erroneamente como bem. O violento ("animal") se opõe
        à natureza humana. No sentido mais amplo, cabe chamar a vontade de natureza, uma vez que
        ela é uma inclinação natural e não uma necessidade de coação. 
                      Querer a
        felicidade própria gera uma amplíssima margem de indeterminação pois são muitas as
        vias que a ela podem (ou parecem...) conduzir. Caracteriza o homem a vocação natural
        para o bem. A partir do momento em que o homem não raciocina e interpreta o mal como bem,
        mesmo sob o efeito de uma coação, e.g. uma pressão social; equipara-se assim o
        homem ao animal, pois este, não discerne entre o bem e o mal. Um predador não é capaz
        de compreender o mal que faz a sua presa. Quando o homem se animaliza e agride alguém,
        pensa somente em seu bem particular, não tendo noção do mal que causou à sua vítima
        (e, ao contrário do caso do jaguaretê, a si mesmo...). 
                      Em
        contraste com o animal, o homem é um eterno insatisfeito; anseia pelo poder, amor ou
        destruição; arrisca sua vida por ideais religiosos, políticos ou humanistas. São
        justamente estes ideais que caracterizam a vida humana. Caracteriza o homem a noção de
        bem comum (2). O animal, mesmo que adaptado à vida em grupo, visa apenas sua
        sobrevivência, mesmo que tenha que aplicar um mal a outro ser - segundo o juízo humano
        -, tanto de sua como de outra espécie. O homem se animaliza a partir do momento em que
        vive apenas o bem particular, esquece que faz parte da sociedade e se torna um egoísta,
        mesmo que isto signifique um mal para os outros (e, portanto, para si mesmo...). 
                      O homem,
        para não ser rebanho, massa, precisa preocupar-se dela, servindo-lhe de pastor, fermento.
        Não há alternativa ou se é levedura ou massa, ou pastor ou rebanho. Non ducor duco!.
        Cada um, atuando na sociedade e para a sociedade, vivendo a cidadania, demonstrarão a
        personalidade que cada um possui. O homem, quando não possui um ideal próprio, está se
        massificando. É como o animal que vive em grupo e apenas aceita, sem contestar o papel ao
        qual está acostumado a desempenhar. Ou seja, deixar-se levar pela corrente é
        massificar-se (3). 
                      O homem,
        diziam os antigos, é fundamentalmente um ser que esquece. (Lauand, 1994) Esquece da
        sua dignidade como pessoa humana (4). Deixa-se levar pelas tendências da maioria, e
        quando menos se espera, acaba como um animal de um rebanho. O homem se aproxima do animal
        a partir do momento em que esquece a sua dignidade, seus valores, sua personalidade e se
        subjuga à uma situação onde sofra de alguma forma um dano físico, moral ou seja
        impedido em sua liberdade. 
                      Ao
        libertar-se parcialmente das leis biológicas e físico-químicas, nascem nele
        aspirações à verdade, ao bem e a beleza. Como antes, olha para o universo, mas agora o
        contempla e o teoriza. Coloca seu juízo, sua vontade, seu agir ao serviço de um
        comportamento que sua razão lhe mostra como harmônico, reto e ordenado. E quando não
        age assim, atraiçoa e fere sua dignidade. No campo dos valores, da axiologia do ser
        humano, se não for potencializada pela ontologia, não tem nenhum fundamento. 
           |