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Prof. Kamori - Arte e Papel Artesanal

(entrevista a Márcia Oshiro, São Paulo, 02-04-2004)

 

 

P.: "Kamori" é hoje um nome muito conhecido no meio artesanal, pelas importantes inovações técnicas para elaboração de papel ("método Kamori") e, no meio artístico, pois, como artista plástico, suas obras se caracterizam pela relação com o papel artesanal. Kamori é seu nome artístico?

R.: Sim. Meu nome é Katsutoshi Mori; tomei a primeira sílaba, Ka, e juntei-a ao sobrenome Mori, e Kamori significa "força da floresta", o que também é interessante, pois em meu trabalho eu lido muito com plantas.

P.: O "método Kamori" compreende uma técnica de reciclagem de papéis. Como vê a consciência da necessidade de reciclagem no Brasil?

R.: Essa consciência é um ponto importante, que eu procuro formar em meus alunos. Há, entre outras, a necessidade de reaproveitar matérias primas, de todos os materiais usados e evitar a extração. Essa consciência de reciclagem está começando no Brasil, um marco importante foi a Eco-92.

P.: O senhor tem desenvolvido técnicas inovadoras de papel artesanal e reciclagem, valendo-se tanto de matéria prima tradicional como de outros produtos. Quais as possibilidades de criação artística que se abrem com esses materiais?

R.: A possibilidade de criação com esses materiais é infinita, foi o que descobri em minhas pesquisas. O meu interesse em papel artesanal - tanto o reciclado como o defibras vegetais - foi porque se poderia fazer a obra de arte no ato de confecção do papel; é o que designamos por "incorporação", como esses quadros que se podem ver nas fotos [a cores na edição eletrônica desta entrevista]:

Incorporação e suminagashi de Kamori em papel reciclado com fibra de cana e kozo

Já se fazia um trabalho de papel artesanal a partir de fibras vegetais, mas a qualidade não estava à altura do nível necessário para a arte e por isso eu comecei a pesquisar, para - utilizando um material bem brasileiro, como a cana de açúcar e a bananeira -, poder produzir um papel adequado para a arte.

P.: Já temos kozo no Brasil?

R.: O kozo (Broussonetia kazinoki) é uma planta nativa japonesa e muito tradicionalmente utilizada para produzir papel. O kozo foi trazido para o Brasil pelo Sr. Koiti Matsuda, que inclusive lançou um livro, no qual eu também colaborei. Foi uma grande oportunidade, e agradeço a esse senhor, por ter ele trazido essas mudas de kozo - já há uns vinte ou vinte e cinco anos - para o Brasil. Com base no conhecimento dele senhor, eu fiz uma pesquisa de como se cultiva o kozo e tenho tido

sucesso nas mudas que plantei em meu sítio: cinqüenta pés muito bem tratados. A qualidade do papel de kozo é a melhor do mundo. E, quando integra uma mixagem (entrando, digamos, em porcentagem de 20%), ele melhora a qualidade dos vegetais brasileiros, como a cana de açúcar ou da bananeira. Com a mistura do kozo, obtemos papéis de alta qualidade; o kozo melhora a maciez, melhora a resistência, melhora também o processo de confecção. Para o uso generalizado na arte, o mais indicado é o misto de kozo.

Kozo, casca branca e casca verde

O kozo é muito procurado também para trabalhos de restauro, pois ele permite produzir um papel de cinco gramas / metro quadrado! Um papel finíssimo e transparente, excelente para restauro, pois ele não cobre as letras. Além do mais, sendo o kozo um vegetal alcalino por natureza - o próprio local de plantio exige que seja alcalino - fornece uma fibra para papel fácil de alcalinizar.

P.: E o washi?

R.: Washi significa feito no Japão. Como este nome é muito antigo, na época identificava-se com o papel artesanal; hoje, há uma certa confusão, porque há papel industrial que também estão chamando de washi. Mas washi de verdade é artesanal. Veja por exemplo esta caligrafia artística, "Criação", do Prof. Sagara, feita em washi,

washi artesanal, que, aqui no Brasil, eu estou tentando que seja chamado de "papel fibra de kozo".

P.: Sua arte está baseada em aspectos rigorosamente técnicos (como estudos geométricos) e, por outro lado, numa fina sensibilidade e intuição artísticas. Como o artista lida com esses dois lados.

R.: Talvez por eu ser filho de orientais eu tenha facilidade em trabalhar os hemisférios direito e esquerdo. Seja como for, a geometria é, afinal, orgânica; tudo que há no planeta é em formas geométricas e a geometria pode se conjugar com a criatividade artística, com a sensibilidade..., harmonizando com a imaginação, que entra com as cores.

                     Prof. Kamori, em sua oficina na Aliança                     .  Trabalhos de alunos

P.: Como tem sido sua experiência como professor?

R.: Essa experiência foi propiciada pela direção da Aliança Cultural Brasil-Japão (São Paulo), que me convidou para lecionar. Iniciei com cursos de fibra de kozo, depois introduzi cursos de reciclagem, cana, bananeira, mix de kozo com cana, kozo com bananeira, com reciclado... Hoje dou um curso anual de 96 h (compreende 6 módulos) e também cursos avulsos, de módulos com carga horária de 24 h a 30 h. Nestes oito anos de Aliança tive aproximadamente 400 alunos e acredito que esses alunos estejam transmitindo esses conhecimentos e essa consciência, aatingindo umas cinco mil pessoas no Brasil.

 

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