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 "Vigencia" e Educação –
a Ditadura da Extroversão [1]

 

Jean Lauand
Prof. Titular FEUSP
jeanlaua@usp.br

Dedicado, com imenso carinho, a M. T. O
(e a S. R. e a tantos outros que, por motivos óbvios,
não me perdoariam se os identificasse
[2] ).

 

Introdução

Dentre as minorias discriminadas, excluídas ou mesmo perseguidas, há uma que parece ser a mais indefesa: a dos introvertidos, a daqueles que - para além das diferentes cargas teórico-técnicas [3] e valorativas que impregnam a palavra "introversão" (para não falar em "timidez" etc.) - são literalmente intro-versos, isto é, dirigidos a seu próprio interior (e não ao exterior, à exposição social, ao environment, à multidão...) [4] .                                                                                                        ..                      ..  

É fato evidente (pelo menos para os introvertidos que o sofrem na pele diariamente...) que nossa sociedade endossa as atitudes de extroversão, de "sociabilidade", e não aprecia os valores da introversão. A propósito dessas preferências, Keirsey recorda o caso daquela senhora que protestou:

"My daughter is not an introvert. She is a lovely girl!" [5] .

Certamente, não se trata de uma perseguição proativa ou planejada (e nem mesmo consciente...), mas de uma discriminação que vai se exercendo, de modo natural e espontâneo, por meio da institucionalização de critérios e formas de relacionamento pautadas quase que exclusivamente pelos padrões dos E, sem que os próprios atingidos tenham clara consciência da existência de quão injustas são as limitações que os afligem. Ao contrário das crescentes restrições impostas em todo o mundo à minoria dos fumantes, não se trata aqui, como é óbvio, de restrições legais: não está proibido ou taxado ser I, nem o ministério da saúde adverte contra os males da introversão.

A força das vigências

Para ir direto ao ponto: a ditadura da extroversão se exerce - para usar o fecundo conceito de Ortega y Gasset - por meio de vigencias; e as vigências são as dos E.

Ninguém melhor do que Julián Marías para recordar-nos o significado e o alcance das vigências em nossa vida:

A sociedade exerce uma grande pressão. Em alguns sentidos trata-se de uma pressão difusa: é a pressão que exercem as vigências, os usos sociais, que de certo modo configuram nossa vida e tiram-lhe a espontaneidade, tiram-lhe uma certa autonomia, ao mesmo tempo que a regulam e lhe propiciam facilidades.

É evidente que a sociedade me dá já prontas muitas soluções para problemas como por exemplo o que se deve vestir. Se cada vez eu tivesse que inventar a roupa que vou usar, isso seria bastante complicado, daria muito trabalho..., mas há um uso social, as pessoas se vestem de certo modo: para os homens, por exemplo, a escolha é muito limitada (sei lá, alguém pode querer usar um paletó listrado, com botões na manga...; noutros casos, há mais margem de escolha…, mas, enfim, há um padrão geral).

Há, também, por exemplo, usos alimentícios, que são muito importantes: não inventamos o que vamos comer no café da manhã, cada país já tem o seu desjejum habitual, em cada sociedade existe um uso habitual que estabelece o que se come na refeição matinal. Eu me lembro, por exemplo, que nos Estados Unidos é muito freqüente comer ovos no breakfast - eu os comia e me parecia ótimo. Mas era difícil conseguir ovos na hora do almoço ou do jantar, não era comum, porque não era costume: em geral as pessoas comiam os ovos de manhã, no desjejum. Se em algum lugar qualquer da Espanha alguém pedir sardinhas para o café-da-manhã… terá certamente problemas; agora, se quiser um café com leite ou algo parecido, então será muito mais fácil…

Portanto, isso que por um lado automatiza a vida, por outro, a facilita. Trata-se de uma pressão, repito, ambiental, difusa, mas que condiciona os modos de vida. [6]

Se as vigências condicionam o que podemos vestir ou comer, condicionam ainda mais nosso modo de relacionar-nos com os outros. E numa sociedade em que as vigências são determinadas pelos E - a ditadura da extroversão - os I sofrem. Certamente, há diversidade de graus - a ditadura assume formas distintas, digamos, no Rio de Janeiro ou em Curitiba; na Espanha ou em Portugal -, mas as vigências sempre são dos E.

Vigências da extroversão: festas, reuniões...

Pense-se, por exemplo, na tortura que são para o I as vigências que regulam as festas e reuniões, em sua existência, faixa de duração, grau de exposição social etc.

Existência. O I se pergunta: onde é que está escrito que deva haver, por exemplo, (ao menos no formato vigente) festas de formatura?! (E as há não só para a conclusão de curso superior, mas também para ensino médio e fundamental e, mais recentemente, até de prezinho!!). Por mais que se esforce, o I não consegue encontrar um único argumento racional que justifique a existência dessas festas (em todo caso, que durassem no máximo meia hora), com os sacrifícios que ela costuma trazer consigo: não só a dificuldade de deslocar-se, estacionar, passar horas agüentando intermináveis discursos e as breguices dos mestres de cerimônia contratados, as brincadeirinhas tolas dos formandos... Tudo isto para depois entrar na fila da felicitação e no final da cerimônia, ir comer uma pizza [7] com a família do novo graduado etc. Mas é a vigência. Vigência que vige e obriga a arrumar uma boa desculpa - se queremos preservar a amizade - caso se queira escapar.

Vigência que se fortalece e se estende impondo o comparecimento a celebrações de parentes não tão próximos e mesmo a meros conhecidos. Em vão o I tentará defender sua fobia diante da pressão da autoridade do cônjuge, ou dos pais (ou filhos...) etc.; autoridade avalizada pela vigência.

O quadro se mostra mais grave quando lembramos o dado de Keirsey: I costuma casar com E... E se o I for criança, é muito freqüente que tenha pai e mãe E... É oportuno registrar, desde já, que o I não tem nada contra as festas ou reuniões em si, tomadas de modo puramente abstrato: se os E gostam dessas reuniões, que as organizem e façam bom proveito... Mas, nas formatações vigentes, pelo amor de Deus: "me poupe", "me risca" "me inclui fora dessa", "deixem-me em paz!".

Infelizmente, quanto mais o I tenta subtrair-se às exposições sociais, mais aumenta o empenho dos E que o amam (?) em enquadrá-lo nos padrões "normais". É até mesmo um desafio: se levar um E numa reunião vale, digamos, de 1 a 5 pontos; conseguir a presença do I vale 100 pontos (daí a razão adicional para o hermetismo da introversão: ceder às pressões de um convite é abrir um perigoso precedente: "Você foi ao aniversário de Fulano e no meu você diz que vai ver se pode...!!"). Compreende-se, assim, também o interesse adicional da obsessão dos E pelos I e o nível radical das recusas dos I.

Para conseguir a presença dos I, autêntico troféu, os E valem-se de todos os tipos de pressão, sem excluir a chantagem emocional: "Você odeia os parentes", "Você tem vergonha de aparecer comigo", "Todo lugar em que eu vou, eu vou sozinha (/o), pareço viúva (/o; orfã /o)", etc. Chega uma hora em que se vence pelo cansaço e as novas cobranças e queixas serão, num próximo momento, em relação ao fraco "desempenho social" ("Você parece um urso", "Nem chegamos e você já quer ir embora", "Só encontrar os parentes, você fica de cara fechada" etc. ) e, finalmente, a tentativa de demonstrar exaustivamente para o I que a festa foi ótima e obter dele reconhecimento e até gratidão e... uma menor resistência para comparecer na(s) próxima(s)!

O mesmo sofrimento atormenta o I no fim do ano: a vigência de ter de externar desejos de boas festas para uma multidão de parentes, colegas, vizinhos e profissionais que saem do anonimato nessa época. Em períodos normais, o I defende-se, ou tenta se defender por meio de todo um complexo sistema de "sensores" e "radares" pessoais, que o leva a esquivar-se de cruzar com as multidões (tenha-se em conta que, em alguns casos, duas ou três pessoas - ou até uma só - são, para ele, multidão): ele não se importa por exemplo de chegar ao trabalho antes da massa dos colegas ou de entrar por portas menos freqüentadas, tomar o cafezinho mais frio, mas longe da multidão, etc. tudo para subtrair-se à "social", que, para os outros, é fonte de prazer.

Assim, ante a proximidade de um ou mais E grudentos, os sensores do I indicam-lhe que faça estratégicas mudanças de percurso nos corredores, saídas pela varanda, simulação de conversas intensas com terceiros mais inofensivos (até que passe o perigo dos E...), ou mesmo entrar sem razão em uma sala, fingindo, por exemplo, procurar um objeto, só para evitar a rota de colisão com um E. Como os E, por sua parte, fazem o joguinho complementar (que a língua espanhola expressa por: "hacerse el encontradizo"), por vezes o I é apanhado e, literalmente encurralado, e aí chega a passar fisicamente mal ante a exposição à descarga de extroversão a que é submetido.

Não que o I não se importe com os colegas; talvez até nutra por eles uma solicitude e um afeto mais profundos do que o dos E; afeto cultivado no recolhimento de sua personalidade. Mas uma coisa é gostar das pessoas; e outra, muito diferente, é ter de ficar indagando (e sendo indagado...) por assuntos de caráter privado ou que não interessam (ou não deviam interessar) senão à esfera pessoal de cada um. Sua territorialidade. Claro que ele fica contente em saber, digamos, que o colega descansou no carnaval e passou dias maravilhosos na pousada tal; e agradecerá sinceramente a dica de viagem etc. Mas daí a ter de ficar percorrendo todo o álbum de fotos ou respondendo a interrogatório sobre onde ele mesmo passou esses dias (e com quem, saiu fantasiado do quê etc.) há anos luz de distância.

Mas voltemos às festas de fim de ano. Quando chega o fim do ano, a vigência da forma da festa de Natal, obrigá-lo-á a agüentar toda a parentada (de primeiro, segundo e terceiro graus) além de ter de interagir com desconhecidos que passaram a integrar o clã (o marido da prima Fulana, o namorado de Sicrano etc.). Isso para não falar de clãs que se estendem para as colonias do país de origem dos avós, grupos de oração, a turma do jogo de bocha etc.

As vigências de duração. Quinze minutos ou meia hora de permanência numa festa seria o que o I naturalmente poderia suportar, mas ele pode se sujeitar a ficar mais tempo porque seria extremamente trabalhoso inventar desculpas e tentar sair antes das duas ou três horas "normais", o mínimo permitido pela vigência... A tentativa de justificar a saída "precoce" poderia até causar penosos dissabores para o I: o E dono da festa poderia vingar-se denunciando em altas vozes a tentativa de fuga e expondo ainda mais o I.

Os exemplos podem multiplicar-se em inúmeras instâncias da vida social. A ditadura da extroversão invadiu a própria Igreja. Um conhecido meu, I de carteirinha, confidenciava-me que ele descobriu que o Código de Direito Canônico exige para o casamento religioso simplesmente duas testemunhas. Parece incrível, mas é verdade: para o sacramento do matrimônio, a lei da Igreja exige apenas a presença de duas testemunhas. E, portanto, a figura do padrinho (/madrinha) de casamento não existe: é uma vigência inventada pelos E (para não falar de damas de honra e parafernálias matrimoniais que os sociófilos impõem...). Isso para não mencionar a absoluta prevalência (nesse e em outros eventos) da gravação das fitas de vídeo, que chega a extremos como o de fazer o sacerdote repetir tal rito prescrito pela liturgia, porque a gravação não saiu bem. E uma vez de posse do vídeo, o casal E impõe a amigos e parentes a tortura da obrigação de vê-lo e comentá-lo, e em diversas sessões... Por vezes, com requintes de crueldade, como a de dar replay em determinada cena ou dar um pause para identificar, um por um, os figurantes e relembrar seus distintos comentários...

Os bares e restaurantes são considerados tanto mais in, quanto mais multidões se acotovelarem nas mesas (e filas...), os clientes falando em voz altíssima para tentar se fazer ouvir em meio ao ruído ensurdecedor das outras conversas e do barulho ritmado das músicas ou das TVs ligadas no estabelecimento. O I simplesmente não compreende que o restaurante possa estar cheio de pessoas contentes com tal aglomeração. Dia desses, não agüentando mais, um I encheu-se de coragem e foi ingenuamente perguntando, de mesa em mesa, se os outros freqüentadores do restaurante estavam gostando da "música" ambiente: ante a unanimidade afirmativa das primeiras respostas, retirou-se para procurar um dos poucos bares em que ainda se pode verdadeiramente conversar, longe das barulhentas tribos de bárbaros extrovertidos que, por se acharem interessantes, expõem-se, ostentam-se, exibem-se, rompendo tímpanos e limites legalmente permitidos de decibéis.

Talvez o dilema de alguns desses jovens E esteja precisamente nisto: a compulsiva necessidade de falar (um falar que não necessariamente deve ser classificado como comunicação), de "agito", de chamar a atenção; junto com a ausência do dizer, a superficialidade da mais absoluta falta de assunto para manter uma conversa com algum conteúdo, que possa minimamente superar os "tipo assim", "com certeza", etc.

Ou como diria a impagável Tati, da Heloísa Perissé:

"Cara, fala sério. Tem horas que minha cabeça seqüela.
Tipo assim, a vida é feita de muitos obstáculos".

Entre tantos outros testemunhos clássicos que se aproximam de nosso tema, advertindo contra os perigos da loquacidade excessiva, está o de um dos precursores da fundação da Europa, o papa S. Gregório Magno, falecido em 604. Gregório, com aguda psicologia inclui em sua Regra Pastoral, um capítulo sobre como orientar espiritualmente os excessivamente faladores (em contraposição aos caladões): Aliter admonendi sunt nimis taciti atque aliter multiloquio uacantes. Depois de advertir os caladões, volta-se para os muito faladores e para o perigo que esse vício representa para suas almas.

"É preciso alertá-los para que estejam muito atentos para o quanto se afastam do reto caminho por ficarem falando demais. Pois a mente humana comporta-se como a água: quando está recolhida, concentra-se num nível superior; quando, porém, se solta perde-se, esparramando-se inutilmente pelos níveis mais baixos. Assim, o palavreado supérfluo dissipa a guarda do silêncio, como um rio que sai de seu leito [8] . E, assim, a alma é incapaz de voltar a seu interior e ao conhecimento de si, porque derramando-se em seu muito falar, impede-se de penetrar em sua própria intimidade. Fica assim exposta aos ferimentos dos ataques que a assediam, pois não está rodeada por defesas que a guardem. Pois, diz a Escritura (Pro 25, 28): 'Cidade aberta e sem defesa é o homem que não consegue controlar seu afã de falar'. E como não conta com as muralhas do silêncio, é alvo para as setas do inimigo, e ao sair de si mesma pela loquacidade expõe-se ao adversário. Etc." (Gregorius Magnus - Regula pastoralis III, 14; Cetedoc Library of Christian Latin Texts, Brepols 1994).

Vigências da extroversão: as formas "corretas"

A ditadura dessas vigências da extroversão baseia-se na pressuposição de que os outros são (devem ser...) pautados pelos mesmos padrões dos ditadores. Não se toleram muitas divergências nas formas sociais. Pense-se por exemplo nas formas "corretas" de luto... Morre um parente muito querido e tudo tem que seguir os padrões impostos: não é "correto", por exemplo, que alguém prefira curtir sua dor sozinho (ou na intimidade de um pequeno círculo) e não ir a velórios, enterros, missas de sétimo dia etc. Já no Evangelho, é mencionada a "cobrança" dos sentimentos corretos. Cristo, queixando-se daquela geração, diz:

"Parecem meninos sentados na praça que dizem: 'Tocamos flauta e não dançastes; tocamos lamentações e não chorastes'" (Lc 7, 32) [9] .

Se no Extremo Oriente encontramos um respeito ao modo de ser introvertido; no Oriente Médio as coisas se complicam: há, em geral, uma obrigação de manifestar externamente, materialmente, as atitudes: o apreço e a consideração têm que se traduzir de modo visível (o que constrange a minoria introvertida): numa homenagem, deve-se elogiar/presentear ostensivamente; num velório, é necessário chorar convulsivamente; numa recepção, comer. Daí o provérbio árabe:

"É no [muito] comer que se mostra a afeição [pelo anfitrião]" [10] .

Ainda nas formas semitas de convivência, o Alcorão prescreve, por exemplo, retribuir uma saudação com outra mais intensa (IV, 86) ou, pelo menos, não inferior (naturalmente, a reação em cadeia deflagrada por um simples "Bom dia" a um desconhecido pode durar uma eternidade). É nesse sentido que Cristo, que tão bem sabe valorizar a hospitalidade e as formas humanas de acolhimento (cfr. p. ex. Lc 7, 44 e ss.), tem que recomendar aos discípulos enviados em missão: "A ninguém saudeis pelo caminho" (Lc 10, 4). É um problema até de aproveitamento do tempo, em uma missão urgente!

Mas voltando ao luto em nosso meio. Os E estabelecem controle (informal, porém rigoroso) e acabam elaborando as listas completas de quem foi, quanto tempo ficou, que manifestações públicas de dor exibiu... E muitos dos que estão na fila para apresentar suas condolências (e talvez os próprios familiares do falecido) não se ajustam naturalmente a essas vigências.

Nesse sentido, a ditadura pode tornar-se terrorismo (terrorismo sutil, mas terrorismo), quando há uma intimidação pelo medo de ter que dar explicações - a quem, a rigor, não tem nada que ver com isso - sobre comportamentos supostamente atípicos ou não aceitos pela "turma", "galera" ou por pessoas especialmente influentes. É o caso, por exemplo, de alguém que tenha ascendência, digamos uma mãe (ou pai, ou chefe etc.), que comenta com seus filhos jovens (/subordinados): "Nossa, que horror!, Vocês viram? Como é que o Zezinho, um rapaz tão bonito, pôde se casar com a Mariazinha, que é tão magra. Vocês viram como ela é seca e arreganhada?" (/ ou, digamos, no trânsito: "Pessoas que dirigem devagar são mentecaptas!"). Se os filhos não tiverem a coragem de assumir a defesa da liberdade (e defender a liberdade alheia é defender a própria), poderão vir a ter problemas com seus próprios futuros casamentos (será que o nível de magreza da amada será ou não "aprovado"? etc.). Esses comentários - mesmo que isso não passe pela cabeça de quem os faz -  podem estar causando um enorme problema, sobretudo para os I.

Para não falar de pessoas que se sentem como que gravemente ofendidas quando os I se atrevem a tomar decisões (decisões pessoais, que, afinal, dizem respeito somente a eles mesmos) sem consultar sua opinião, ou mesmo sem comunicar a elas essas suas decisões. Vir a saber por terceiros, não ser dos primeiros a saber (ou não saber antes) é tido por desconsideração pelos E.

As vigências atuais suprimem muitas das antigas mediações (e a supressão de mediações é, lembrando Ortega, carcterística da barbárie). Abordar um desconhecido na rua era um ato extraordinário, precedido e acompanhado por formas mediadoras para preservar o respeito à privacidade; as novas vigências ignoram essas reservas. Mesmo os mendigos, que ainda há poucos anos pediam discretamente, à la dérobé, com um fio de voz; atuam hoje, pela aberta e abrupta irrupção (alguns até já vão advertindo: "Não é um assalto!"...). Um deles, mesmo após receber generosa esmola, fez questão de continuar contando, nos mínimos detalhes, seu problema (real ou fictício, não me compete julgar).

Nessa mesma linha de ausência de limites, mediações e normas, para a extroversão invasiva está o caso vivenciado por um querido casal de I, que, nestas últimas férias iam jogar boliche num salão com oito pistas. Naturalmente (ambos são I em grau extremo), iam no primeiro horário (porque, em geral, nesses começos de tarde, não havia ninguém) e alugavam a pista 8 (a mais escondida). Um dia, estavam tranqüilamente jogando, quando chegaram dois ruidosos jovens E, que - apesar de todas as outras pistas estarem livres - exigiram a pista 7, que inclusive obrigava ao incômodo de dividirem as bolas com a pista 8... Mas nada importava: os E precisavam de público, mesmo que fossem dois discretos I (afinal, a única platéia disponível...). Ao notarem a mal disfarçada perplexidade e incômodo dos I, comentaram ente si, como que para se justificarem: "É, a pista 7 é a única que não dá pau, é a melhor etc.". O curioso é que, no dia seguinte, a pista 1 estando ocupada por um bando de E, nosso casal I foi para a sua pista 8. Poucos minutos depois, chegaram os mesmos dois ruidosos E da véspera, que, desta vez, foram para a pista 2 (embora todas as outras, inclusive a 7, estivessem livres)! A conclusão é óbvia: o importante não é o jogo nem a pista nem nada; a única coisa que importa é aparecer e ter público...

A mentalidade contemporânea de reality show tende a abolir a privacidade, a territorialidade, para sofrimento dos I. Invade-se o espaço psicológico e o espaço físico. Embora a Constituição Federal assegure:

"São invioláveis a intimidade, a vida privada...

as novas vigências da mídia apontam para a legitimação da eliminação da privacidade e tendem a institucionalizar a bisbilhotice pública. E enquanto vigem essas vigências, não há nada a fazer, como explica Ortega:

As vigências operam seu mágico influxo sem polêmica nem agitação, quietas e jacentes no fundo das almas, às vezes sem que estas se apercebam de que estão dominadas por elas, e às vezes crendo inclusive que combatem contra elas.

O fenômeno é surpreendente, mas é inquestionável e constitui o fato fundamental da sociedade.

As vigências são o autêntico poder social, anônimo, impessoal, independente de todo grupo ou indivíduo determinado. [11]

Precisamente por causa desse "taking for granted", as vigências se apresentam como "o normal", "o certo". É nesse sentido que, na já citada conferência, adverte Julián Marías:

Considerem, então, que um homem de nossa época recebe diversas interpretações do real que têm muitas vezes um caráter moral.

Apresentam-se-lhe formas de vida, formas de relações humanas, de família, de moral política, de uma série de fenômenos e ele recebe, de certo modo, interpretações que se lhe são apresentadas sob uma certa luz, isto é, são apresentadas atitudes, de modo favorável ou desfavorável conforme os casos, e como normais, por serem freqüentes.

Há uma identificação muito perigosa em nosso tempo que consiste em considerar o que é freqüente como normal e o que é normal como lícito e o que é lícito legalmente como sendo moral.

Não! São identificações inaceitáveis. Pode haver coisas freqüentes que não são normais, pode haver coisas que são normais, mas apesar de normais não são lícitas e podem ser lícitas legalmente, mas moralmente não.

Portanto, é preciso ver em cada caso do que se trata [12] .

Nesse sentido, já Sêneca admiravelmente advertia contra os perigos de seguir a multidão em questões que tocam o centro da existência humana:

Enquanto vaguearmos de um lado para o outro tendo como guia os rumores e gritos discordantes dos companheiros, que nos chamam em direções contrárias, a nossa vida se consumirá brevemente, mesmo que trabalhemos dia e noite da melhor maneira. Desse modo, devemos discenir tanto aquilo para que tendemos quanto o meio de conseguir o desejado, não sem escolher um perito, conhecedor profundo do caminho em que nos metemos, porque as condições dessa viagem não são as mesmas que as dos demais itinerários. Nesses, o traçado da estrada e as informações dadas pelos habitantes não nos permitem errar; mas, em nosso caso, o caminho mais palmilhado e freqüentado é o que mais costuma enganar. Por conseguinte, o que mais devemos ter presente é o cuidado de não seguir os que nos precedem, à maneira do gado, em que os de trás seguem os dianteiros, dirigindo-se não aonde devem ir, mas aonde vão os da vanguarda. Ora, nada nos enreda em maiores males do que o fato de agirmos conforme a voz comum. Julgamos ser melhor o que é aprovado pelo consenso geral e, assim, vivemos à imitação dos inúmeros exemplos que se nos apresentam, e não conforme a razão. Daí provém esse amontoado de homens caindo uns sobre os outros. Em qualquer gênero de vida podes observar o que sucede numa grande aglomeração de pessoas que se apertam mutuamente: ninguém cai sem levar junto o outro, de sorte que os primeiros causam a ruína dos seguintes. Quem erra não o faz somente com prejuízo próprio, mas é causa e conselheiro do erro alheio. Com efeito, é prejudicial ligar-se aos que vão na frente, e, enquanto cada um prefere acreditar a julgar, o erro, transmitido de mão em mão, nos confunde e precipita no abismo. Perecemos ao seguir os exemplos alheios; seremos curados, contanto que nos afastemos da massa. Mas agora o povo, contra a razão, se levanta como defensor do seu próprio mal. Desse modo sucede como nas eleições: aqueles mesmos que elegeram os pretores admiram-se de os terem eleito quando sua inconstante popularidade decai. Aprovamos e censuramos as mesmas coisas, esse é o resultado de todo julgamento que é feito por muitos. Como trataremos da vida feliz, não me poderás responder estupidamente aquilo que costumam dizer: "É desse lado que parece estar a maioria." Ora, por isso mesmo é pior. Nas coisas humanas não se procede com acerto tentando agradar à maioria, pois a multidão é a prova do que é pior. Busquemos, portanto, o que é melhor e não o que é mais comum, aquilo que nos estabelece na posse de uma felicidade eterna e não o que é aprovado pela massa, o pior intérprete da verdade [13] .

A introversão indefesa

Não é de estranhar que os I encontrem-se muito pouco à vontade nesse quadro, pois não só a imensa maioria - cerca de 75% - das pessoas são E [14] , como também as vigências e a mídia são dominadas por elas (é inimaginável, por exemplo, um programa de auditório que não seja apresentado por pessoa super-extrovertida, como Sílvio Santos, Hebe, Luciana Gimenez, Gugu, Faustão etc.).

Mas o mais grave é o diferencial que caracteriza essa minoria e que a torna indefesa, muito mais indefesa do que outras minorias discriminadas. A crescente conscientização dos direitos humanos, dos valores da diversidade e da tolerância em nosso tempo tem dado voz e vez aos discriminados e às minorias oprimidas: negros, mulheres, GLS etc. (há até mesmo alguns exageros, que por vezes convertem os até ontem discriminados em "minorias esmagadoras"). E vemos surgirem ações afirmativas como a política de quotas para negros na universidade ou de mulheres nas candidaturas dos partidos. Muitas minorias organizam-se, protestam e desfilam. No caso dos I, porém, a própria idéia de associação (para não falar de passeatas...) está praticamente descartada.

Como seriam as reuniões de uma (improvável) Associação Estadual de Introvertidos (ou mesmo de um grupo de auto-ajuda "Introvertidos Anônimos")? É possível imaginar a Avenida Paulista tomada por manifestantes gritando palavras de ordem:

"Introvertido unido jamais será vencido"?

ou:

"Introvertidos de todo o mundo, uni-vos"

ou ainda em estádios:

"Olê, olê, olê, olê, social pra quê?"

Como sempre, na luta contra o preconceito e a discriminação o primeiro passo é o da conscientização e este artigo espera poder contribuir nesse sentido. Pois, em si, a introversão não é pior nem melhor do que a extroversão; simplesmente em nossa sociedade as vigências dão um caráter de "normalidade" ao E.

Uma instância importante onde se exerce essa normalidade é a da educação. Para além da (o)pressão da educação informal (dominada pelos E), pense-se, por exemplo, na escola. Obviamente, a maioria dos professores e educadores são E e acabam impondo seus padrões de extroversão a todos os educandos e tentam "corrigir" os I, "socializando-os" de modo sutil (que vão desde a arquitetura da escola e da própria disposição das carteiras em salas de aula à exigência de trabalhos e atividades em grupo etc.) ou à força. Porém, na feliz metáfora de Keirsey, ao tirar os dentes do leão, o que se obtém não é um gatinho doméstico, mas um leão desdentado...

Seja como for, é importante que os I ganhem consciência de sua situação e lutem por seus valores: até que chegue o dia em que, por exemplo, aos avisos de legislação em elevador (lugar, aliás, propício para que a fobia introvertida dê lugar a surto):

Lei Municipal - Fica vedada qualquer forma de discriminação em virtude de raça, sexo, cor, origem, condição social, idade, porte ou presença de deficiência e doença não contagiosa por contato social no acesso aos elevadores de todos os edifícios públicos municipais ou particulares, comerciais, industriais e residenciais multi-familiares existentes no Município ("Diário Oficial do Município de São Paulo", 17.01.96).

se ajunte:

Respeitem-se especialmente os inalienáveis direitos dos introvertidos, que, por mais que sejam afáveis, não estão obrigados a fazer bilu-bilu para crianças ou cachorros, podendo limitar-se a um cordial "- Bom-dia".

A ditadura começa cedo. Os bebês são continuamente expostos a um indiscriminado festival de observações, festinhas e gracinhas e não podem sequer permanecer passivos: exige-se deles reações "adequadas" (sorrisinhos, beijinhos, grunhidos etc.). Como não questionam as vigências, nem sequer passa pela cabeça dos pais a idéia de que talvez seu bebê seja temperamentalmente I e que, portanto, não é o caso de encher a casa para festejar o aniversário de um aninho com uma multidão de estranhos. Precisamente nessa idade em que a criança começa a "estranhar" os estranhos:

"Quando a criança faz um ano, surge o medo dos desconhecidos. O psicólogo francês Christophe André explica que 'no momento em que a criança começa a deslocar-se sozinha, por volta de um ano de vida, a mãe relaxa a vigilância e surge o receio de pessoas estranhas ao seu círculo de conhecidos'" ("Ser tímido tem vantagens" Revista Quo - O Saber Actual, Lisboa, Hachette Filipacchi, Outubro 2003, p. 97). 

O I não quer - é muito trabalhoso - ter que dar explicações para o grande público sobre sua vida, preferências etc.. Há casos de I que não ligam a mínima para a opinião dominante (ele, por exemplo, simplesmente não aceita convites, doa a quem doer; ou simplesmente desaparece e deixa seus telefones todos na caixa postal etc.); enquanto outros, temem tanto a opinião alheia que procuram adequar-se aos padrões vigentes só para não ter sua vida devassada por interrogatórios e pedidos de explicação por parte da tirania dos E - como dizíamos, há pessoas que chegam a considerar ofensa que os outros tomem suas decisões pessoais sem consultá-los ou ao menos informá-los...

São Paulo, falando das tribulações a que estão expostos os apóstolos, diz: "spectaculum facti sumus mundo et angelis et hominibus" (I Cor 4, 9), somos espetáculo para o mundo e para os anjos e para os homens. Um espetáculo no qual os homens têm de enfrentar as feras que são as línguas, a bisbilhotice, a fofoca, a pretensão de controlar a vida alheia; pretensão que constitui aspecto essencial da ditadura da extroversão.

Não por acaso a forma veemente de dizer em inglês "Não enche, deixe-me em paz!" é "leave me alone".

Já o heterônimo Álvaro de Campos se rebelava em 1923:

 

Lisbon Revisited

Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 
Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.  
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 

 

Denise está chamando

Longe de nós sugerir a errônea impressão de que os E sejam solidários e os I sejam egoístas [15] . Não, na verdade são fatores independentes.

Um dos tantos méritos do filme "Denise está chamando" [16] (obrigatório para este nosso tema) é precisamente o de mostrar profundos laços de solicitude e solidariedade em pessoas acentuadamente I (e, neste caso, diríamos, doentiamente I), refratárias à exposição social.

O filme começa com a mesa posta de uma festa na casa de Linda: é o dia seguinte ao da "festa" e a mesa está intacta: não apareceu ninguém! Gale, que telefona para desculpar-se por sua ausência e para saber como tinha sido a festa e quem tinha ido, aparentemente surpreende-se: "Como assim, não foi ninguém?". E Linda: "I mean nobody!".

O filme se desenrola explorando os contatos entre meia dúzia de introvertidos (generosos e solícitos) em torno do fato de Gale estar tentando fazer com que Jerry conheça e namore sua amiga Barbara, valendo-se do ex-namorado, Frank, como intermediário. E também da relação de Martin com Denise, que está esperando um bebê, gerado pelo sêmen que Martin doou a um banco de espermas.

Mas o enredo é o que menos importa. A força do filme está no fato de que os personagens - I em grau extremo - não encontram forças para cultvar relacionamentos que não sejam por telefone ou computador. Eles nunca se encontram pessoalmente, todas as tomadas de câmera contêm apenas um personagem, em geral ao telefone. São I que passam a vida inventando desculpas (eles são "ocupadíssimos") para não aparecer.

O filme termina com uma festa de ano novo marcada em casa de Frank em homenagem à amiga comum Gale, recém-falecida num acidente, e todos estão sinceramente decididos a participar. Na hora H, porém, a única que aparece é Denise - com a filha Afrodite no carrinho - e toca a campainha. Mas Frank, ao ouvir a campanhia, não tem energias psíquicas para abrir a porta. Mais uma festa para ninguém. Barbara e Jerry até dirigem-se à casa de Frank, mas entrar numa festa é superior às suas forças e cada um segue reto, sem se atrever a parar para tocar a campainha: quando se cruzam em frente à porta de Frank é a única vez em que esses dois amantes se vêem, mas naturalmente não se reconhecem pois todo seu relacionamento tinha sido só por telefone (e por telefone começaram, mantiveram um tórrido caso e até esfriaram, caindo em desavenças e rotina sexual, mesmo sem nunca se terem visto).

O filme chega a ser caricaturesco, mas tem o mérito de trazer à tona toda a problemática das vigências da ditadura da extroversão e o de propor o tema das novas possibilidades de relacionamento social dos I a partir das novas tecnologias de comunicação. Paradoxalmente, se por um lado a tecnologia permite a invasão da privacidade, por outro, permite um isolamento inimaginável ainda há poucos anos. De seu personagem Martin diz o ator Dan Gunther:

In Los Angeles, where I live, you go out of your house and into a car, and then you move to a cubicle at work, yet another isolated environment. Later you can order in the groceries, order in Chinese food. You can now even pay your bills on line. You never have to leave the house. And some people don't [17] .

Autarkeia

Para concluir, sem pretender terminar uma discussão que apenas começou, recolho a sugestiva poesia do filósofo Paulo Ferreira da Cunha [18] :

AUTARKEIA

Lá podes ser uma ilha
Numa pequena ínsula cristalizares
E receberes o correio
Uma vez por mês
Sem Internet, claro.

Lá podes ter a tua casa branca
Como uma colina na minúscula ilha
E crescer para dentro
Dentro dela

Lá podes cultivar
Tua solidão ao sol
E no teu exíguo jardim insular
Colher o vinho dos deuses
E a oliveira da paz

E na tua casinha branca
Branca e azul talvez
Podes receber-te principescamente a ti
E dar festas orgiásticas
Celebrando os mistérios
De seres apenas tu. 



[1] . Ao longo deste artigo, usaremos a abreviatura I para introvertido e E, para extrovertido.

[2] . E mais: ao tomarem conhecimento dessa homenagem, relutaram em aceitá-la.

[3] . A título de curiosidade, lembro que a palavra "introversão" é moderna e foi muito usada originalmente na linguagem religiosa-mística. Por exemplo, em Wesley (1788): "The attending to the voice of Christ within you is what the Mystics term Introversion" (cf. OED).

[4] . Valha, para os propósitos deste artigo, a breve descrição da introversão elaborada por David Keirsey: "And so to make the Extraversion-Introversion distinction useful at all, we must define the two concepts, not in terms of mental focus or interest, but in terms of social address or social attitude. Thus when someone is observed to be talkative and sociable (the so-called "extravert") he or she can be described as "expressive." In contrast, people who are more quiet and private (the so-called "introverts") can be described as "reserved." Interestingly, because Reserved persons tend to hold their fire verbally, they tend to listen carefully to what others say, while Expressive persons tend not to listen very well, so eager are they to tell others of what they have on their minds. So in general, the Expressive are quick to speak and slow to listen, while the Reserved are quick to listen and slow to speak. Of course, everyone is expressive in some degree, but not in the same degree. Those who are more expressive appear more comfortable around groups of people than they are when alone. Thus they can also be thought of as socially gregarious or outgoing. On the other hand, those who are more reserved seem to be more comfortable when alone than when in a crowd. And thus they can be thought of as socially seclusive or retiring. Remember, however, that these distinctions are not clear cut: each individual surely varies from time to time in his or her desire to be expressive and in company or reserved and in seclusion. A metaphor might shed light on this difference. Imagine that a person's energy is powered by batteries. Given this, then Expressive persons appear to be energized, charged up, by contact with other people. Owing to the surge they get when in company, they are quick to approach others, even strangers, and talk to them, finding this an easy and pleasant thing to do, and something they don't want to do without. Such interaction apparently charges their batteries and makes them feel alive. Thus, when they leave a lively party at two o'clock in the morning, they might well be ready to go on to another one. Their batteries are almost overcharged, having received so much stimulation from the social interaction. In fact, quiet and seclusion actually exhaust the Expressive, and they report feelings of loneliness (or power drain) when they are not in contact with others. For example, if an Expressive person goes to a library to do research in the stacks, he or she may, after fifteen minutes or so, feel bored and tired, and have to exercise strong will-power to keep from taking a short brain break and striking up a conversation with the librarian. On the other hand, Reserved persons can be said to draw energy from a different source. They prefer to pursue solitary activities, working quietly alone with their favored project or hobby, however simple or complicated it may be, and such isolated activities are what seem to charge their batteries. Indeed, the Reserved can remain only so long in contact with others before their energies are depleted. If required by their job, family, or social responsibilities to be expressive or outgoing - to make a great interpersonal effort - they are soon exhausted and need alone time in quiet places to rest and to restore their depleted energy. Thus, if Reserved persons go to a noisy cocktail party, after a short period of time - say, half an hour - they are ready to go home. For them, the party is over, their batteries are drained. This is not to say that the Reserved do not like to be around people. They enjoy socializing with others, but at large social gatherings or professional meetings they tend to seek out a quiet corner where they can chat with one or two other persons. There is some social bias toward expressiveness in American social life, but Reserved persons have no reason to feel that there is anything wrong with them, and should be sure to provide adequately for their legitimate desire for quiet time to themselves. (http://keirsey.com/pumII/ei.html Excerpted from Please Understand Me II, by David Keirsey)

[5] . Keirsey, David & Bates, Marilyn  Please Understand me, 4th ed., Del Mar, Prometheus Nemesis, 1984, p. 16.

[6] . Marías, J. "A Moralidade Coletiva", conferência proferida em Madrid em 15-04-98, em: http://www.hottopos.com/videtur5/a_moralidade_coletiva.htm.

[7] . Aliás, a própria pizza, já é algo que puxa para a extroversão. Uma pizza (pelo menos as paulistanas), em geral, requer ao menos três pessoas para consumi-la. Daí a expressão "acabar em pizza", para designar a reconciliação de adversários em torno da comida comunitária.

[8] . Literalmente, que sai de si mesmo - extra se ducitur.

[9] . O Evangelho de Marcos narra a curiosa cena dos participantes de um velório que passam instantaneamente de estridentes manifestações de dor à burla. Jairo, chefe da sinagoga, pede a Jesus que cure sua filha. Jesus se dirige à casa de Jairo, mas no meio do caminho vêm alguns dizer que já não é necessária a presença do Mestre, pois a menina acabou de expirar. Jesus, porém, prossegue em direção à casa do chefe da sinagoga e "Lá chegando, observa um grande alvoroço, alguns chorando e outros dando gritos com enorme alarido" (Mc 5, 38). E quando Jesus diz que a menina não morreu, mas está simplesmente dormida, "os que ali estavam burlavam-se dele".

[10] . Freyha, Anis  A Dictionnary of Modern Lebanese Proverbs, Beirut, Librairie du Liban, 1974, #300.

[11] . Ortega y Gasset, A rebelião das massas, "Epílogo para ingleses"; Rio de Janeiro, Livro Ibero-Americano, 1959, p. 267.

[12] . Marías, J. "A Moralidade Coletiva". http://www.hottopos.com/videtur5/a_moralidade_coletiva.htm.

[13] . Sêneca, Da vida feliz, I e II; trad. J. C. Cabral Mendonça, São Paulo, Martins Fontes, 2001.

[14] . Cf. Keirsey, David & Bates, Marilyn  Please Understand me, 4th ed., Del Mar, Prometheus Nemesis, 1984, p. 16.

[15] . Nunca é demais lembrar Jung: "Baseando-se a disposição introvertida numa condição que, de modo geral, existe, sumamente real e absolutamente imprescindível, as expressões do gênero de 'filáutico', 'egocêntrico' e outras são tanto mais impróprias e refutáveis quanto mais suscitam o preconceito de que se trata sempre, única e exclusivamente, do amor ao Eu. Nada mais errôneo que semelhante suposição, mas a verdade é que a encontramos a todo instante, quando se examinam os juízos que o extrovertido formula a respeito do introvertido. Eu não atribuiria, certamente, esse erro ao extrovertido isolado, como pessoa singular, mas ao ponto de vista extrovertido geral que atualmente domina e não se limita, apenas, ao tipo extrovertido, visto que, contra si próprio, é igualmente representado pelo outro tipo. A este pode-se inclusive censurar a infidelidade cometida contra o seu próprio caráter, ao passo que ao primeiro não se pode fazer, pelo menos, tal censura." (Tipos Psicológicos, Rio de Janeiro, Zahar, 1974, 2a. ed. p. 437).

[16] . Denise Calls Up, EUA, 1995. Direção: Hal Salwen. Com Alonna Ubach, Tim Daly, Ainda Turturro, Dana Wheeler Nicholson, Sylvia Miles.

[17] . http://www.sonyclassics.com/denise/crew/gunther.html

[18] . Cunha, P. F. Escadas do Liceu, São Paulo, CEMOrOc-FEUSP, 2004, p. 28.