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Quatro Poesias de Gilberto Gaspar

 

 

A paz depende de mim

 

Carrega em ti, dentro de ti, o amor profundo
por todas as coisas que estão na Natureza.
Tu verás que o mundo, este mundo, o nosso mundo
reservará, em pouco tempo, uma surpresa.

Apaga em ti, dentro de ti, toda amargura
que tu tens na alma e que te faz tanto sofrer.
Terás em ti, dentro de ti, toda segura,
a paz constante pra alegrar o teu viver.

Vivendo em paz, cessará a tua procura.
Tudo de bom começará acontecer.
E a corrente de compreensão e de ventura
envolverá todo o teu novo amanhecer. 

E, amanhecendo para ti um mundo novo,
tenho a certeza, tu irás pensar assim:
toda esta paz que necessita o nosso povo,
nunca pensei, que dependesse só de mim.

 

 

Que fim levou a infância?

 

Que fim levou a infância,
suas aventuras, seus medos?
Onde estão os seus brinquedos
e aquela simplicidade?
Para onde foram os meninos
e a grande sinceridade?
Onde estão os meus amigos
e os seus sonhos mais antigos
de alcançar felicidade?
Para que se apressar tanto
se a pressa quebra o encanto
que tem a nossa cidade?
Onde estão as procissões,
o andor de Nossa Senhora,
que fim levou a infância
dos seus meninos de agora?
Já não jogam mais bolinha,
não rodam mais o pião,
no asfalto da pracinha,
não tem buracos no chão.
No telhado da escolinha
João-de-Barro já não canta.
O galo tem na garganta
o silêncio das madrugadas.
Que fim levou a infância
das histórias bem contadas?
Do Pedrinho Malazarte,
da varinha de condão,
carneirinho de São João,
os lindos contos de fadas
das princesas perfumadas.
Que fim levou a infância,
caminhando em belas trilhas
nas reuniões de família
em noites enluaradas?

Que fim levou a infância?

 

Amo o silêncio

 

Eu amo o silêncio, que é força suprema.
Leva-me num vôo pra perto de Deus.
Traz raios de sol para os versos meus
e enche de rimas um pobre poema.

Amo o silêncio das horas sombrias.
Silêncio e sombras são bons companheiros.
Vejam as lições dos velhos mosteiros:
as sombras fiéis das filosofias!

Amo o silêncio envolvido na prece
das horas incertas e até parece
que elas, as horas, já não têm mais fim.

Amo o silêncio, o amigo fiel,
que sempre me abre as portas do céu
fazendo silêncio dentro de mim.

 

 

Retalhos filosóficos diversos

 

Não sabia da espera o que viria,
se a força ou o fracasso do destino.
A brincar eu sonhei, desde menino,
com o homem que um dia eu seria.

Esta pedra, embora grande e pesada,
há de sair de uma vez do caminho.
Eu sou um ser, não vivo tão sozinho.
Ela é pedra, uma pedra e só; mais nada.

Como é suave a voz desta lembrança,
ecoando aveludada em meu ouvido
e faz a vida ter bem mais sentido:
minha mãe nos meus dias de criança.

Meu pai, meu pai, eu nunca te esqueci!
Teus carinhos, exemplos e conselhos...
Eu quebrei assustado os teus espelhos;
não consigo me ver igual a ti.

Meus filhos, sigam bem nesta jornada,
são caminhos que um dia eu já trilhei.
Se sonharem com tudo que eu sonhei,
chegarão ao final da caminhada.

É pela boca que nos entra a vida,
é pela vida que nos vem a sorte.
E é da boca que, às vezes, sai a morte,
que irá matar os encantos da vida.

No discreto compasso dos minutos
deixe escrito em seu berço sua história.
Libere o grande cofre da memória
da sombra secular dos viadutos.