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Educar na Pós-modernidade:
a Pedagogia do Dhikr e
a Pedagogia do Encontro

(notas de conferência que o autor – conhecido escritor de livros didáticos
– tem proferido para professores de todo o Brasil)

 

Elian Alabi Lucci

 

Nós estamos vivendo hoje num outro mundo: o da Pós-Modernidade.

O cenário da crise histórica que vivemos (já antecipado agudamente por Ortega y Gasset) é segundo Edgar Morin e muitos outro analistas da sociedade de nosso tempo, tem seu centro na crise do homem e dos valores que vêm regendo a sua conduta.

Uma versão menos acadêmica desse diagnóstico pode ser encontrada, de modo lúdico  ou até jocoso, na conhecida canção “Tribunal do Amor”, interpretada pela dupla Milionário e José Rico:

Sei que sou um preso
Preso em liberdade

A seguir a canção fala da impotência individual:

Confesso não sou covarde
Sempre fiz meu papel de homem
Não matei e nem roubei
Só sei que estou condenado

Para além da discussão sobre o valor artístico da canção sertaneja (para não recairmos, por exemplo, no cult “Matrix”), esta, sem dúvida, retrata a condição paradoxal que hoje nos é imposta: a de prisioneiros em liberdade.

Com isto tocamos o núcleo essencial das disfunções da Pós-Modernidade: uma ruptura com o antigo, com a Modernidade e uma tentativa de colocar em seu lugar novas maneiras de encarar e viver a vida, que ainda não estão de todo definidas histórica e socialmente falando.

Esta é a razão da angústia do homem de hoje: a de não saber exatamente onde se encontra e qual o mito que agora rege o advento desta nova fase de sua história.

Enquanto a Modernidade era regida pelo mito da razão, a Pós-Modernidade tenta criar um novo mito para alimentá-la: o mito da revolução.

Diante deste quadro ou deste novo caldo de cultura em que estamos imersos, no qual desponta a globalização, e em sua dimensão cultural, o anything goes, o “vale tudo”, a pergunta é: para onde devemos caminhar com a Educação e suas práticas pedagógicas que nos permitam bem orientar os jovens tendo em vista o seu futuro e o futuro de nossa civilização?

Para começar a responder a esta crucial indagação devemos, parece-me,  abrir um diálogo com duas perspectivas pedagógicas, que remetem, por um lado, à milenar sabedoria oriental e, por outro, à perspectiva humanista do Ocidente.

Pelo mau uso da mídia - costumo, um tanto jocosamente, alinhá-la entre os cinco Ms ameaçadores de nosso tempo: Multinacionais, Marketing, Marca, Moda e Mídia) - nota-se uma tendência a um maior embotamento do ato de pensar, que deveria ser o grande fio condutor da escola e das práticas pedagógicas, caso queiramos promover uma educação não comprometida com o chamado ¨pensamento único¨ muito bem explicado pelo grande geógrafo brasileiro Milton Santos.

E – é o que nos assegura a milenar pedagogia do Oriente - o pensar começa pelo lembrar.

É o que afirma a antropologia subjacente à Pedagogia do Dhikr: o homem é um ser que esquece. Remeto aqui a um artigo em que estas teses estão expostas: http://www.hottopos.com/seminario/sem2/jean.htm

Resumindo: A educação volta-se principalmente como remédio para a condição esquecediça do homem (já apontada também no Ocidente, 500 anos antes de Cristo, pelo poeta grego Píndaro).

Na verdade a educação essencialmente como anti-esquecimento, anti-embotamento é – nas tradições oriental e ocidental – uma unanimidade. O terrível é que o homem de hoje esquece até de seu caráter esquecedor, ficando, portanto, não só sem os valores, mas também “imunizado” contra os valores. E sem valores que o sustentem filosoficamente somos presa fácil de um mundo burguês e medíocre, que nos é imposto pelos meios de comunicação e que nos levam a preferir preencher a existência com o acidental, passando à margem do essencial. Daí, como decorrência o consumismo, o hedonismo, as drogas etc.

Trata-se, portanto, de lançar as bases de uma proposta de construção de um novo homem, a partir da escola: e aí abrimos o diálogo com dois dos maiores pensadores da atualidade: Edgar Morin e Alfonso López Quintás: uma Pedagogia Integral ou Global (Morin) e a Pedagogia do Encontro / Valores / Amor (López Quintás).

Respeitando a liberdade que deve ser entendida como o mais importante dos dons que nos foram dados pelo Criador, devemos orientar nossos jovens (através do que eu chamo de multipráticas pedagógicas ) para que eles possam seguramente fazer uma leitura do mundo e  escolher (na medida do possível) em que situação futura eles querem viver.

A beleza da vida está em poder escolher o mundo em que queremos viver .Mas, mesmo assim fazemos escolhas equivocadas. Preferimos um mundo de escassez a um mundo de abundância; um mundo de probabilidades a um mundo de possibilidades; um mundo de expectativas a um mundo de estimativas.

O mundo da sobrevivência

A luta pela sobrevivência foi e ainda é o grande motor que alimenta nossa sociedade e as pessoas. Não são poucos os que mordem a isca e caem nessa armadilha.O mundo da sobrevivência é o mundo da escassez (e, portanto, o mundo dos conformistas), pois se parte do pressuposto de que não existe o suficiente para todos. Não há para todo mundo, salve-se quem puder (ou, segundo o provérbio: “farinha pouca meu pirão primeiro”). Daí a competição que se torna cada vez mais acirrada, até se transformar em predatória. Nada pode ser exposto, tudo deve ser controlado, guardado a sete chaves. A busca da segurança faz com que a fórmula que deu certo se repita. E a repetição assegura a sobrevivência, fechando o ciclo agora vicioso.

A crença de que não há o suficiente para todos tornou as pessoas egoístas e voltadas para o trabalho pesado em detrimento de outras facetas importantes da vida. A maioria das pessoas é viciada em preocupações, controle, excesso de comando e falta de fé: uma doentia necessidade de segurança, que contradiz a própria natureza da vida, de per si “insegura”. A maioria de nós tornou-se muito séria e... doente. Nos EUA, por exemplo, os trabalhadores consomem mais de 15 toneladas de aspirina por dia. Aí está um exemplo de aonde vai parar a ambição desmedida da disputa de cada palmo do mercado e a corrida obsessiva do lucro.

Mais uma vez aqui caberia, sempre na perspectiva lúdica da pedagogia, voltarmos a Milionário e José Rico, desta vez com  a canção: “Estrada da Vida”:

Nesta longa estrada da vida
Vou correndo e não posso parar
Na esperança de ser campeão
Alcançando o primeiro lugar
Mas o tempo cercou minha estrada
E o cansaço me dominou
Minhas vistas se escureceram
E o final da corrida chegou
Este é o exemplo da vida
Para quem não quer compreender
Nós devemos ser o que somos
Ter aquilo que bem merecer

Como dizíamos, trata-se apenas de indicações. A conferência em que o próprio López Quintás apresenta seu pensamento está em: http://www.hottopos.com.br/prov/quint1p.htm