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A Escola do Século XXI –
Vender Sonhos para Colher Resultados

(notas da palestra que o autor - escritor de livros didáticos da Editora Saraiva -
tem proferido para professores de 1o. e 2o. graus nos mais diversos pontos do país)

 

Elian Alabi Lucci
elian_alabi@yahoo.com.br

 

“Quando nasceu, você chorou e todos exultaram de alegria. Viva de tal modo, que quando morrer todos chorem e você exalte de alegria”. (Ditado indiano)

Estamos descobrindo, nestes novos tempos que a verdadeira "alma do negócio" não pode mais ficar restrita à banalidade do antigo gesto de tirar pedidos ou fazer matrículas.

Vender e educar, mais do que nunca, são processos articulados e importantes na estratégia de “marketing” (no melhor sentido da palavra, metaforicamente empregada, como é claro): “Vender é satisfazer sonhos. Ou seja, atender a todas as necessidades, expectativas e desejos das pessoas”. Quem apregoa isto é o muito bem sucedido empresário italiano, Giani Luigi Buitoni, criador do conceito de Marketing dos Sonhos e que além de dono de uma das maiores e mais tradicionais fábricas de macarrão do mundo, foi o grande responsável pelo sucesso dos automóveis Ferrari no maior mercado do planeta, reestruturando o negócio e conseguindo aumentar as vendas em nada menos do que 160% (sua frase lapidar era: “A Ferrari não vende carros, mas a ilusão da velocidade”).

Mas e os nossos "clientes", quem são? Os mais importantes do mundo: os nossos alunos. Nós também temos que “vender” sonhos de uma boa educação, pois, vivemos na Era do Conhecimento. Felizmente, nossos sonhos ao contrário da posse de bens materiais são realizáveis e duram a vida toda: o de educar e formar pessoas, seres humanos e colher como resultado um mundo melhor, uma sociedade mais justa e fraterna, contra o nihilismo, deste início de século. (cf. Giovanni Reale, O Saber dos Antigos, São Paulo, Loyola, 2001). Mas para vender esse sonho e fazer com que ele se torne realidade é preciso primeiro passar pelo conhecimento do ciclo vital da realidade do saber, parte importante da Sociedade da Informação e do Conhecimento.

A Sociedade da Informação e do Conhecimento

Vivemos numa era em que sofremos com a enxurrada de informação que nos assola diariamente. Muitas são as pessoas que sofrem de stress informativo. Não somos mais estimulados ao pensar, pelo excesso de informação que induz ao agir: agir sem refletir. O fato é que informação sem aplicação é lixo, porquanto se acumula sem produzir praticamente nada.

Diante disso, o conhecimento, em si, pode tornar-se cultura vã, extinguindo-se rapidamente. Para tanto é de grande importância, como dizíamos, compreender e atuar de acordo com o ciclo vital da realidade do saber.

Ciclo Vital da Realidade do Saber

Informação: deve incutir dúvidas. É necessária? Qual é a prioridade? A informação precisa satisfazer uma necessidade real da pessoa: desde o conhecimento de um poema até uma especificação técnica de alguma operação eletrônica ou ainda uma bula de remédio.

Conhecimento – disposição de aceitar a informação / reter a informação.

Compreensão – resposta a uma indagação essencial: de que modo podemos traduzir em ações o conhecimento adquirido ?

Aplicação – é o conhecimento testado. Ela reforça o conhecimento, valida a competência e provoca um desempenho eficaz. Mas toda aplicação deve ser avaliada, para obter credibilidade.

Avaliação – dá a “certificação de qualidade” ao conhecimento aplicado.

Aprendizagem – produto final continuamente renovado no processo de informação / conhecimento. A aprendizagem é contínua no sentido de que está sempre em movimento, provocando novos conhecimentos e novas aplicações. Daí, talvez seja mais correto afirmar que vivemos na Sociedade da Aprendizagem. Por isso o “guru” Tom Peters tem razão quando afirma que:

Renovação Contínua – a aprendizagem é contínua no sentido de que está sempre em movimento gerando novos conhecimentos.

A alegria é hoje um importante componente da educação

Além do ciclo vital do saber, um importante componente do processo ensino/aprendizagem é o brincar, a alegria. Uma interessante e curiosa experiência foi feita nos EUA quando tiras de esparadrapo foram colocadas no rosto dos pacientes de maneira a simular um sorriso constante. Depois de pouco tempo, esses doentes mostraram visíveis sinais de melhoria. Certamente, não por casualidade: a musculação facial, quando em posição de riso, libera hormônios importantes para o bem-estar das pessoas e para a recuperação dos doentes.

Já o não-riso, ao contrário, faz uma pessoa sentir-se pior do que está! Mas, será que nossos alunos de hoje em meio a violência que já chegou também à escola ainda podem ter disposição para o riso, a alegria? E quem de nós consegue viver alegre, despreocupado nesta sociedade globalizada (e excludente), já não mais apenas econômica e socialmente falando mas até excludente quanto ao direito de viver? Quando estamos cansados, estressados ou adoentados, a primeira capacidade que perdemos é a de rir. Tudo que conseguimos esboçar é um riso amarelo, a contragosto. Mas é preciso rir: rir é um santo remédio. O antigo ditado "muito riso pouco siso" já perdeu totalmente seu significado, hoje, o que se deve dizer é "muito riso, muito siso". Rir ou gargalhar é, além do mais naturalmente prazeroso. Mas não se trata só de expedientes fisiológicos.  Brincadeira à parte, a alegria é essencial no processo existencial. Julián Marías em sua autobiografia, fala da necessidade (especialmente para o jovem), da alegria, de acumular alegria; e apresenta uma razão: só com um bom “armanezamento” de alegria o jovem terá condições de enfrentar com inteireza, os desgostos e pesares que afinal nesta vida não faltam.

Não é por acaso que a própria palavra "escola" deriva de skholé, que desde a Metafísica de Aristóteles (e antes) indica aquela atitude alegre, serena, aberta e receptiva; atitude de festa da alma, de estar de bem com a vida e o mundo sem a qual evidentemente não pode haver aprendizagem nem escola.  

Num importante livro de pedagogia, Revolucionando o Aprendizado (Gordon Dryden e Jeannette Vos), encontramos está sugestão:

                

Para tentar alcançar isto vejamos o que diz o Método das Etapas para o Divertimento, segundo Dave Hemsth e Leslie Yerkes (Divirta-se - Saiba tornar seu trabalho agradável e divertido).

1. Comece por si próprio.

Não espere que outra pessoa comece a rir, brincar.

Seja você o próprio elemento catalisador.

2. Inspire diversão nos outros.

Arrisque-se, não tenha receio de parecer tolo.

3. Crie um ambiente que estimule a diversão.

Surpreenda os outros e a si próprio mudando regularmente as coisas de lugar.

4. Comemore os benefícios da diversão.

Deve-se trabalhar dura e eficientemente, porém é necessário saber comemorar os bons resultados obtidos.

5. Elimine limites e obstáculos que inibam o divertimento.

O fato é que a diversão é eletrizante e contagiosa. Uma vez liberada, ela se propaga rapidamente distribuindo vida e energia para todos.

6. Procure o humor em cada situação.

O humor é uma afirmação de dignidade.

7. Siga sua intuição e seja espontâneo.

Quem pensa que existe um local específico para o divertimento, está errado. Não espere que ele surja, mas ao contrário faça-o acontecer principalmente no seu ambiente de trabalho.

8. Não adie seu divertimento.

Não transfira nem adie a diversão, mas ao contrário transforme-a em parte da sua rotina diária.

9. A diversão deve sempre estar presente, na sala de aula.

Quanto mais alegre e feliz você estiver, melhor é. É a atitude certa que cada um deve adotar continuamente.

10. Sorria e ria bastante.

Comece cada dia com um sorriso, pois isso vai contagiar positivamente os alunos que o rodeiam.

11. Ponha a diversão em prática.

Tome uma idéia divertida e parta para a ação.

Uma excelente idéia é começar agora mesmo a praticar o método sugerido por Dave Hemsath e Leslie Yerkes e o primeiro passo é brincar.

Permita-se brincar. Permita-se voltar, adequadamente, à sua primeira e deliciosa infância. Por que não? Veja o que nos diz este texto da anônima e profunda sabedoria pedagógica:

Tudo o que hoje preciso realmente saber
aprendi no jardim de infância

Tudo que hoje preciso saber – sobre como viver, o que fazer e como ser – eu aprendi no jardim de infância. A sabedoria não se encontrava no topo da montanha da pós-graduação, mas no montinho de areia da escola dominical. A seguir, indico as coisas que lá aprendi.

Compartilhar tudo. Jogar dentro das regras. Não bater nos outros. Colocar as coisas de volta ao seu lugar. Arrumar a bagunça. Não pegar as coisas dos outros. Pedir desculpas quando machucar alguém. Lavar as mãos antes de comer. Dar descarga. “Biscoitos quentinhos e leite frio fazem bem para você”. Levar uma vida equilibrada. Aprenda um pouco e pense um pouco e desenhe e pinte e cante e dance e brinque e trabalhe um pouco todos os dias. Quando sair, cuidado com os carros! Dar as mãos e ficar junto. Reparar nas maravilhas da vida. “Lembre-se da sementinha no copinho plástico: as raízes descem, a planta sobe e ninguém realmente sabe como ou por que, mas somos todos assim”. O peixinho dourado, o hamster, os camundongos brancos e até mesmo a sementinha no copinho plástico – todos morrem. Nós também. “E lembre-se da sua cartilha e da primeira palavra que você aprendeu – a maior de todas.

OLHE. Tudo o que você necessita saber, está lá, em algum lugar. A regra de ouro é o amor e a higiene básica. Ecologia e política é igualdade e vida sadia.

Pegue qualquer desses itens, coloque-o em termos mais adultos e sofisticados e aplique-o à sua vida familiar ou ao seu trabalho ou ao seu governo ou ao seu mundo e verá como ele é verdadeiro, claro e firme. Pense como o mundo seria melhor se todos nós – no mundo todo – tivéssemos biscoito com leite todos os dias por volta das 3 da tarde e pudéssemos nos deitar com um cobertorzinho para uma soneca. Ou se todos os governos tivessem como regra básica devolver todas as coisas ao lugar em que as encontraram e arrumassem a bagunça que fazem. E é sempre verdade não importando a idade: ao sair para o mundo, é sempre melhor dar as mãos e ficar junto.

O brincar e a criatividade

Um dos requisitos mais importantes para uma educação moderna, que predisponha os alunos de hoje a obterem sucesso na sociedade globalizada pós-industrial é a criatividade. E uma das principais alavancas para a criatividade é o brincar.

Brincar é um componente fundamental no processo criativo e educacional pois leva as pessoas a um estado mental que contém muitos dos elementos necessários para ser criativo: curiosidade, imaginação, experimentação, fantasia, especulação.

Joel Goodman diretor do Projeto Humor e que apresenta as mais bem humoradas palestras nos EUA ressalta que: “A comédia pode transformar a contrariedade em descoberta”.

Algumas das idéias mais interessantes vêm ao se estabelecer relações entre lampejos e associações quando se ouve uma piada, uma história, um trocadilho ou mudança repentina em uma situação ou um acontecimento.

Jordan Ayan, no seu livro Ahá! 10 maneiras de Libertar seu Espírito Criativo e Encontrar Grandes Idéias apresenta algumas estratégias que se pode adotar para ter uma vida mais criativa e para aprender a utilizar a criatividade sempre que ela for necessária.

Algumas dessas estratégias são:

1. Relacione-se com as pessoas.

2. Seja contagiado por brincadeiras e bom humor.

3. Expanda sua mente através da leitura

4. Dedique-se as artes.

5. Fique ligado na tecnologia.

Para Jordan Ayan, existem quatro elementos fundamentais do espírito criativo:  Abertura, Tolerância ao risco, Ânimo e Curiosidade.

Curiosidade é uma força de pesquisa que cada um de nós deve ter. Um espírito criativo requer principalmente curiosidade. Sem interesse sobre o que o mundo tem a oferecer, o que faz as coisas funcionarem, quais idéias as outras têm, você tem poucos motivos para ser criativo.        A curiosidade é que nos predispõe a investigar novas áreas ou a processar uma maneira melhor de fazer algo. Um filósofo organizacional diz muito sabiamente: a necessidade pode ser a mãe da invenção, mas a curiosidade é o pai da descoberta.

A tolerância ao risco é na essência a coragem de abandonar a sua zona de conforto. Um espírito criativo também implica correr riscos. Os escritores, os professores, os jornalistas, se arriscam  quando imprimem os seus trabalhos ou comentários bem como as pessoas de negócios arriscam seu capital e sua reputação quando começam um novo projeto, um novo empreendimento. Entre os riscos criativos os mais conhecidos são: o risco da ansiedade, risco da predestinação, risco do bolso e risco do riso. Este último é o risco do qual todo aquele que quer ser criativo deveria rir muito pois não se deve ter medo de um eventual ridículo por ter tentado algo novo mas, que no fim não deu certo.

O ânimo é o combustível indispensável para trabalhar, sendo a fagulha da paixão que faz com que você provoque a liberação de muita energia.        O professor nunca pode cantarolar com o grande compositor Lupicínio Rodrigues: "cansaço da vida, cansaço de mim, cansaço de tudo, velhice chegando e eu chegando ao fim". A palavra ânimo também está ligada ao grau  de paixão que você coloca em tudo que faz. Quando você se deixa fascinar por um projeto ou investir pessoalmente em um assunto ou tarefa sente-se cobrado e exuberante. É capaz de concentrar energia suficiente para cumprir tarefas por que a energia que investir será recompensada pelos resultados. Quanto mais você cria uma coisa, mais energia terá para dedicar a ela e mais criativo você será. Quando não existe ânimo, todo trabalho torna-se enfadonho e sua criatividade desaparece.