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 Explicação 

(para os alunos das 5as. e 7as. séries do C. E. SESI 409)

 

Sinto falta de vocês, da familiaridade em sala de aula, do olhar investigativo, do sorriso, da expressão que necessita de colo, do abraço no corredor, do ensinar, do aprender...

Como convivemos, não somente estivemos juntos por algumas horas, fiquei procurando uma maneira de lhes falar sobre o acontecido e de meu carinho e de minha crença em cada um. 

Doeu muito sair da sala de aula, sem qualquer mau presságio, quando partilhávamos conhecimento, e, de repente, deparar-me com a rescisão de meu contrato a partir daquele momento. Cinco pessoas, em volta da mesa, assistindo ao meu impacto. Senti-me constrangida e surpresa. Uma vontade imensa de chorar, de que alguém chorasse comigo, de um abraço! Por alguns momentos me mantive relativamente firme. Em poucas palavras, a razão: minha faixa salarial de R$11,02 por aula estava além do plano de carreira que deve ser implantado. Alguns ruídos de agradecimento. Em seis linhas, a carta vinda de São Paulo, falando sobre a rescisão sem justa causa, a homologação e, além dos documentos que deveriam ser apresentados, a devolução da carteirinha da assistência médica e crachá. Próximo passo: passar pelo Departamento de RH para as orientações. Em seguida, quando desci para a escola, meu material didático já se encontrava na sala dos professores. Não houve, portanto, a oportunidade, de palavras minhas a vocês. Gostaria de, pelo menos, ter ficado até o final do semestre, concluir nosso tempo em sala de aula.

À tarde, telefonou a adolescente, da sétima série (foram meus na quinta e sexta séries), e pediu a minha mãe que confirmasse o acontecido, pois ela mesma não se sentia preparada emocionalmente para falar comigo. À noite, uma outra, da 5ª série, questionou-me sobre um retorno para as despedidas. Não sabiam que fora convidada a não mais voltar à sala de aula. Como regressar para um adeus?

Posso lhes dizer que foi cruel! Senti-me apenas um número, após 29 anos de SESI. Veio a “borracha” e apagou de imediato.

Vocês, todavia, não eram e não são um conjunto de números para mim numa sala de aula. São gente, alguns gente pequena, outros em pleno florescer da adolescência. São indivíduos, não se repetem.

Guardo comigo o tempo que foi nosso e tenho a esperança de que vocês, ao saberem desta história perversa, que aconteceu e acontece, não somente comigo, mas com tantas outras pessoas, privilegiando a engrenagem ao ser humano, não tratem ninguém como peça que pode ser, por uma questão de valores materiais, extinta.

Cuidem dos conhecimentos que vocês adquirem na escola, mas acima de tudo cultivem os valores da alma; reflitam sobre as posturas que engrandecem e as que diminuem as pessoas e não deixem nunca de pedir a Deus por aqueles a quem falta a verdadeira sabedoria e a coragem para colocar o poder a serviço de uma sociedade mais justa e fraterna, da paz social no Brasil.

Muita ternura e um beijo em cada um! Vamos nos ver a qualquer momento!

Maria Cristina Castilho de Andrade