Uma Leitura de Fernando Pessoa "ele mesmo" à Luz
do Ruba'iyat de Omar Khayyam

Márcia Manir Miguel Feitosa
(Profa. Dra. Dep. Letras U. F. Maranhão)

Nossa viagem pela vereda poética persa de Pessoa teve início com a leitura da obra O tabuleiro antigo: uma leitura do heterônimo Ricardo Reis 1, da Profa. Maria Helena Nery Garcez, onde pudemos ter o conhecimento de que Pessoa lera a primeira tradução inglesa do Ruba’iyat de Omar Khayyam, a de 1859, feita pela tradutor vitoriano Edward Fitzgerald.

A partir dessa singular possibilidade de análise da obra pessoana, fomos instigados à leitura da comunicação pioneira que Alexandrino Severino apresentou no I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, realizado no Porto, em 1978, intitulada "Rubaiyat, um poema desconhecido de Fernando Pessoa". Nela, o autor dá a conhecer um poema escrito pelo ortônimo nos moldes do ruba’i (composição poética persa em forma de quarteto), já publicado por Pessoa em 1926, no número três da terceira série da revista Contemporânea, e que tinha até então passado despercebido pela crítica literária.

Por fim, nossa viagem desembocou nas quinze ruba’iyat (quadras, plural de ruba’iya) descobertas por Maria Aliete Galhoz no espólio do fundo Pessoa da Biblioteca Nacional e que resultou na comunicação intitulada "Canções de beber na obra de Fernando Pessoa: rubai e rubayat na poesia ortónima", apresentada no III Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, realizado em Lisboa, em 1985.

O ponto-auge dessa viagem oriental pela poesia pessoana foi o estudo interpretativo da obra-fonte, o Ruba’iyat, nas suas quatro edições traduzidas: a de 1859, com 75 poemas; a de 1868, com 110 poemas; a de 1872 e a de 1879, ambas com 101 poemas. Desse estudo pudemos constatar que poucas ruba’iyat da primeira edição se mantêm idênticas nas edições seguintes, sofrendo, muitas delas, alterações que vão desde o nível vocabular até a mudança completa de dois ou mais versos.

Concentraremos o estabelecimento desse cotejo da poesia pessoana com Ruba’iyat, de Omar Khayyam na persona do ortônimo, dada sua estreita afinidade não só formal, como temática com a poesia do poeta persa.

Dentre os pontos de contato da poesia de Pessoa "ele mesmo" com as ruba’iyat de Khayyam, figura o esquema rimático AABA, característico do ruba’i. O inusitado desse esquema rimático reside particularmente na presença de um verso branco que se justapõe aos demais, contrastando surpreendentemente com os outros três. Seguindo de perto a tradução de Fitzgerald, em suas quatro edições, o padrão rímico do ruba’i omariano obedece à versificação silábica do pentâmetro jâmbico, isto é, os versos são decassílabos com o icto marcando as sílabas pares. Essa regularidade rímica da criação poética omariana acaba por conferir-lhe um certo tom de desencanto e de resignação. Consideremos, a título de exemplo, o ruba’i XL da primeira edição.

"You know, my Friends, how long since in my House
For a new Marriage I did make Carouse:
Divorced old barren Reason from my Bed,
And took the Daughter of the Vine to spouse."
2


A nossa possível tradução em português corresponde a
3:

"Sabei, meus Amigos, que desde que em meu Lar
Um novo Casamento contraí com Alegria:
Apartei a Razão árida e velha de meu Leito,
Para a Filha da Vinha desposar."

O poema intitulado "Ruba’iyat", publicado por Pessoa "ele mesmo" na revista Contemporânea 3, com data de 1926, segue de perto os moldes do ruba’i omariano, acompanhando a regularidade rítmica dos versos de Fitzgerald. Com título em caixa alta e secundado por uma flor (rosa?), é composto por três quadras que, tal como ocorre no Ruba’iyat traduzido por Fitzgerald, constituem pensamentos à parte, importantes, todavia, para a formação orgânica do todo.

"O fim do longo, inutil dia ensombra.
A mesma sp’erança que não deu se escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bebado
Que extende a mão á sua propria sombra.
Dormimos o universo. A extensa massa
Da confusão das cousas nos enlaça,
Sonhos; e a ebria confluencia humana
Vazia echoa-se de raça em raça.

Ao goso segue a dôr, e o goso a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque ha dôr.
Mas de um e de outro vinho nada resta.:"
4

Essas ruba’iyat de Pessoa procuram seguir de perto a temática omariana do sem sentido da vida, onde imperam a melancolia e a desesperança. Tem início com um fim, isto é, o eu-lírico começa a expor os seus sentimentos após um longo dia em que tudo foi inútil, em que, de modo prolixo, a sonhada esperança não se concretizou, antes se manteve nos escombros da vida. Esta, por sua vez, ébria, ecoa vazia, estendendo a mão à própria sombra que reflete a confluência humana, imersa na confusão e no caos do universo. Para o poeta, o mundo interior, representado pela dor, e o mundo exterior, representado pela festa, fundem-se no mesmo nada, onde nem a embriaguez funciona como atenuante ou lugar de refúgio para a alma em conflito.

Com exceção do domínio inconteste do nada sobre o mundo exterior e o interior do poeta ortônimo, o vinho, tanto em Khayyam, quanto em Pessoa, funciona como possibilidade de fuga do mundo real não compreendido. O ruba’i LVI da 2a edição em inglês (número XXXIX na 1a edição, com o primeiro verso modificado, e número LIV nas duas últimas edições, com a mudança, no terceiro verso, do vocábulo "merry" por "jocund"), vale-se da "Uva" (com letra maiúscula e exercendo o papel de metáfora do vinho) para afogar os dissabores de uma busca inútil nas trilhas do tempo:

"Waste not your Hour, nor in the vain pursuit
Of This and That endeavour and dispute:
Better be merry with the fruitful Grape
Than sadden after none, or bitter, Fruit."
5

"Não desperdice seu Tempo, nem procure em vão
Este ou aquele objetivo ou disputa;
É melhor alegrar-se com a Uva bendita
Que amargar ao sabor de qualquer outra Fruta."

Esse mesmo leitmotiv revela-se em outras ruba’iyat de Pessoa, como recurso, muitas vezes, para tentar esquecer amores antigos ou, o que é mais surpreendente: para servir de troca por um amor futuro que nem existirá. Nada mais indicado do que o vinho para descurar da memória o futuro categoricamente previsível. A estrofe abaixo, equivalente à forma ruba’i, extraída das Novas poesias inéditas, exemplifica o primeiro recurso, estabelecendo, concomitantemente, a morte do ser, que já não tem passado, com o seu reviver por meio da bebida.

"(...)
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
(...)"
6

A temática da impenetrabilidade no mistério universal configura-se em outro ponto de aproximação de Pessoa com a poesia persa de Khayyam. A presença desse leitmotiv faz-se mais relevante na segunda edição do Ruba’iyat, abrangendo, inclusive, cinco poemas consecutivos, como uma forma de dar voz a um ponto crítico da vida do poeta.

O mistério não constitui apenas o leitmotiv dessas ruba’iyat; ele perpassa também o universo da palavra, compondo a base de significação de signos como "porta", "chave" e "véu". Os poemas XXXV e XXXVII, dessa série de ruba’iyat consecutivas, parecem exemplificar a ocorrência desse fenômeno:

"There was the Door to which I found no Key:
There was the Veil through which I could not see:
Some little talk awhile of ME and THEE
There was - and then no more of THEE and ME."
7

"Then of the THEE in ME who works behind
The Veil of Universe I cried to find
A Lamp to guide me through the darkness; and
Something then said - ‘an Understanding blind’. "
8

A nossa tradução em português procura ser fiel ao jogo estabelecido pelo poeta entre o "eu" e o "tu".

"Havia a Porta para a qual não encontrei a Chave:
Havia o Véu através do qual não podia ver:
Somente brevíssimas conversas entre MIM e TI
Depois ninguém mais falou nem de TI, nem de MIM."

"Então do TI em MIM que busca atrás
Do véu do Universo, chorei para encontrar
Um Candeeiro que me guiasse na escuridão; e
Então alguma coisa disse - ‘uma cega Inteligência’. "

Quanto às ruba’iyat do Pessoa "ele mesmo", a da p. 65 das Novas poesias inéditas, datada de 30/05/1931, explora claramente esse motivo condutor, levantando questões metafísicas e dando como única certeza a inquestionável presença do nada.

"Não digas que, sepulto, já não sente
O corpo, ou que a alma vive eternamente.
Que sabes tu do que não sabes? Bebe!
Só tens de certo o nada do presente.

Depois da noite, ergue-se do remoto
Oriente, com um ar de ser ignoto,
Frio, o crepúsculo da madrugada...
Do nada do meu sono ignaro broto.

Deixa aos que buscam o buscar, e a quem
Busca buscar julgar que busca bem.
Que temos nós com Deus e ele connosco?
Com qualquer coisa o que é que uma outra tem?

Sultão após sultão esta cidade
Passou, e hora após hora a vida, que há-de
Durar nela enquanto ela aqui durar,
Nem ao sultão ou a nós deu a verdade."
9

Novamente o eu-lírico do ortônimo vale-se da bebida (vinho) como refúgio, tal qual Khayyam em muitas de suas ruba’iyat, além do cenário oriental da madrugada para despertar do sono letárgico da ignorância. Nem mesmo ao sultão, soberano muçulmano que tinha o direito do exercício da autoridade legítima do Islã, foi concedida a revelação da Verdade que, assim, permanece insondável até para aqueles imbuídos do poder religioso temporal.

Outra questão polemizada por Khayyam, presente nas ruba’iyat do ortônimo, trata da impossibilidade de sondagem do mistério universal pela ciência que se vale de argumentos filosóficos para tentar desvendar o "Segredo da Vida". As palavras do sábio e as do cientista são vazias e seus discursos, falaciosos, diante do fato irremediável e intransferível da morte. O ruba’i LXXVII, exclusivamente da 2a edição, exemplifica esse posicionamento radical do desconsolado cientista e poeta:

"For let Philosopher and Doctor preach
Of what they will, and what they will not - each
Is but one Link in an eternal Chain
That none can slip, nor break, nor over-reach."
10

"Deixe o Filósofo e o Doutor pregarem
O que quiserem e o que não quiserem - cada um
É mais um Elo na Corrente eterna
Que ninguém pode evitar, nem quebrar, nem vencer."

Ainda do ponto de vista analógico, as ruba’iyat de Khayyam e as de Pessoa enfocam, de modo muito similar, o poder implacável do Fado sobre as ações humanas, impedindo a realização dos desejos e a renovação da esperança. Esta, por sinal, nas ruba’iyat do poeta português, contraria os ditados populares: "A esperança é a última que morre", "Quem espera, sempre alcança", "Antes tarde do que nunca", na medida em que não constitui para o poeta uma expectativa, um ideal a ser perseguido ao longo da vida.

O ato de viver, para o ortônimo enquanto autor de ruba’iyat, resume-se em cansaço, enfado e efemeridade: não há, portanto, por que aguardar com impaciência e ansiedade a realização de algo que não tem sentido; o melhor é sonhar e sonhar a ter fé e esperança. O poema abaixo, extraído das Poesias inéditas (1919-1930), ilustra essa postura filosófica do ortônimo:

"A sperança como um fósforo inda aceso,
Deixei no chão, e entardeceu no chão ileso.
A falha social do meu destino
Reconheci, como um mendigo preso.

Cada dia me traz com que sperar
O que dia nenhum poderá dar.
Cada dia me cansa da sperança
Mas viver é sperar e se cansar.

O prometido nunca será dado
Porque no prometer cumpriu-se o fado,
O que se espera, se a esperança é gosto,
Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.

Quanta ache vingança contra o fado
Nem deu o verso que a dissesse, e o dado
Rolou da mesa abaixo, oculta a carta,
Nem o buscou o jogador cansado."
11

O tempo perdido em esperar, de acordo com Pessoa, equivale ao tempo prometido pelo fado; logo, não há como desvendar o mistério da vida se todo o tempo hábil para isso foi desperdiçado quando ainda existia o prazer da espera. Em meio a uma profunda tristeza, o poeta (jogador), cansado de esperar, não se importa mais em desvendar o Oculto, nem em jogar o dado para, quem sabe, poder ver a face que corresponda, simbolicamente, ao mundo divino, ao indecifrável.

Essa ação implacável do Fado sobre a vida e decisões humanas, graças ao poder absoluto de Deus, aparece de forma determinante nas ruba’iyat omarianas, juntamente com a resignação do homem nos braços celestiais do vinho. Essa atitude fatalista perante a impossibilidade de guiar seus próprios passos torna o homem indiferente à passagem do tempo, sobretudo para com o passado, morto para a vida, e para com o futuro, em eterna gestação, juntamente com a esperança. Um poema da primeira edição (o de número XXXVII) retrata fielmente esse quadro de renúncia:

"Ah, fill the Cup: - what boots it to repeat
How Time is slipping underneath our Feet:
Unborn TO-MORROW, and dead YESTERDAY,
Why fret about them if TO-DAY be sweet!"
12

"Ah, encha a Taça: - de que vale repetir
Que o Tempo passa rápido sob nossos Pés:
Nonato amanhã, e falecido Ontem,
Por que angustiar-se frente a eles se o Hoje pode ser doce?"

Algumas ruba’iyat de Pessoa se voltam para o mesmo subterfúgio de Khayyam, deixando-se enlevar pela bebida trazida por Sáki (aquela que "deita vinho" nas taças omarianas) e pelo abandono à dúvida. O melhor é a entrega ao Sol, ao calor do momento.

A ruba’iyat da p. 68 das Novas poesias inéditas, datada de 04/10/1932, mostra já a princípio, no primeiro ruba’i, que o passado morreu e que o futuro com certeza não será um prolongamento do presente. É no intervalo - leitmotiv bem pessoano - entre o ser e o estar que o poeta se volta para o mundo exterior e se entrega ao prazer do instante ensolarado.

"Quanto fui jaz. Quanto serei não sou.
No intervalo entre o que sou e estou,
A natureza, exterior, tem Sol.
Mas, se tem Sol, há Sol. Ao Sol me dou. (...)"
13

O emprego da "rosa" constitui outro ponto de identificação das ruba’iyat pessoanas com as de Khayyam, ainda que perfumada pelo espírito negativista do poeta português. A cidade natal do poeta persa (Nishapur) também é suscitada por Pessoa, como o lugar onde, duas vezes ao ano, florescem as rosas.

Particularmente em muitas ruba’iyat de Khayyam, figura a imagem da rosa ou da flor. Sempre com letra maiúscula, representa a beleza da vida, apesar de seu inevitável fenecimento. O ruba’i XV da 2a edição (XIV na terceira e quarta) espalha a semente da esperança ao permitir o desabrochar da "Rosa":

"Look to the blowing Rose about us - ‘Lo,
Laughing’, she says, ‘into the world I blow:
At once the silken tassel of my Purse
Tear, and its Treasure on the Garden throw."
14

"Olhe para a Rosa que desabrocha - ‘Veja,
Sorria’, ela disse, ‘no mundo eu floresço:
Rompo de imediato a borla sedosa de minha Bolsa
E espalho seu Tesouro no Jardim."

O poema da p. 97 das Novas poesias inéditas, datado de 30/11/1933, porém apenas o terceiro ruba’i e o quinto, evidencia a presença das rosas e de Nishapur na criação poética do ortônimo

"(...)
Troca por vinho o amor que não terás.
O que ‘sperarás, perene o ‘sperarás.
O que bebes, tu bebes. Olha as rosas.
Morto, que rosas é que cheirarás? (...)

Duas vezes ao ano, diz quem sabe.
Em Nishapor
15, onde me o mundo cabe,
Florem as rosas. Sobre mim sepulto
Essa dupla anuidade não acabe!
(...)"
16

O cotejo entre a obra pessoana e o Ruba’iyat de Omar Khayyam não se esgota nesse breve levantamento que ora apresentamos nessa exposição: antes se estende às odes de Ricardo Reis onde podemos verificar significativos pontos de aproximação temática com as ruba’iyat do poeta persa. Infelizmente nosso espaço é exíguo para a comprovação dessa tese. Todavia, é possível afirmar que o veio orientalista do grande poeta português, após essa pequena trajetória pelos versos persas de Omar Khayyam e pelos versos portugueses de Fernando Pessoa "ele mesmo", ganhou nova dimensão, não mais circunscrita à filosofia budista e à civilização hindu, como até então se pensava. Agora é o ruba’i e toda a mundividência do poeta e astrônomo persa que parecem conquistar precioso espaço na alma múltipla do criador de almas.

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Notas

1 GARCEZ, Maria Helena Nery. O tabuleiro antigo: uma leitura do heterônimo Ricardo Reis. São Paulo, EDUSP, 1990.

2 KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Rendered into English verse by Edward Fitzgerald. 1a ed. Leipzig, Bernhard Tauchnitz, 1990, p. 35.

3 Afora as traduções já conhecidas para o português, todas as transposições das ruba’iyat de Khayyam ganharão uma outra possibilidade de tradução: a nossa.

4 PESSOA, Fernando. "Rubaiyat:". In: Contemporânea. Lisboa, S. 3 (3), 1926, p. 98.

5 KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Trad. Ed. Fitzgerald. 2a ed. Op. Cit., p. 89.

6 O poema completo, datado de 20/01/1933 é:

"Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, ‘star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há ou não há o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhe rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?"

Cf. PESSOA, Fernando. Novas poesias inéditas. 4a ed. Lisboa, Edições Ática, s.d., pp. 70 e 71.

7 KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Trad. Edward Fitzgerald. 2a ed. Op. Cit., p. 83.

8 Id. Ibid., p. 33.

9 PESSOA, Fernando. Novas poesias inéditas. Op. Cit., pp. 65 e 66.

10 KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Trad. Ed. Fitzgerald. 2a ed. Op. Cit., p. 94.

11 PESSOA, Fernando. Poesias inéditas (1919-1930). Lisboa, Edições Ática, s. d., p. 104.

12 KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Trad. Edward Fitzgerald. 1a ed. Op. Cit., p. 34.

13 A transcrição dessas ruba’iyat completas é:

"Quanto fui jaz. Quanto serei não sou.
No intervalo entre o que sou e estou,
A natureza, exterior, tem Sol.
Mas, se tem Sol, há Sol. Ao Sol me dou.

Não queiras, com submissa segurança,
Ter saudade de ter esperança.
Tem antes saudade de a não ter.
Sê anónimo, súbito e criança.

Nada ‘speres, que nada salvo nada
Obtém que[m] ‘spera: é como quem à estrada
Lance olhos de esperar que alguém lhe chegue
Só porque a estrada é feita para andada.

Ninguém suporta o peso mau dos dias
Salvo por interpostas alegrias.
Bebe, que assim serás o intervalo
Entre o que criarás e o que não crias.

Quantas vezes o mesmo poente alheio
Sobre meu sonho, como um sonho, veio!
Quantas vezes o tive por augusto!
Tantas, tornado noite, perde o enleio.

Bebe. Se escutas, ouve só o ruído
Que ervas ou folhas trazem ao ouvido.
É do vento, que é nada. Assim é o mundo:
Um movimento regular de olvido."

Cf. PESSOA, Fernando. Novas poesias inéditas. Op. Cit., pp. 68 e 69.

14 KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Trad. Edward Fitzgerald. 2a ed. Op. cit., p.78.

15 Não há consenso quanto à grafia da cidade natal de Khayyam que ora aparece como "Naishapur", "Nichapour", ora como "Nichapur" e "Nichapor".

16 PESSOA, Fernando. Novas poesias inéditas. Op. cit., p. 97.

Bibliografia

GALHOZ, Maria Aliete. "Canções de beber na obra de Fernando Pessoa: rubai e rubayat na poesia ortónima."In: Revista da Biblioteca Nacional. Lisboa, S. 2, 3 (3), 1988.

GARCEZ, Maria Helena Nery. O tabuleiro antigo: uma leitura do heterônimo Ricardo Reis. São Paulo, EDUSP, 1990.

KHAYYAM, Omar. Rubaiyat. Rendered into English verse by Edward Fitzgerald. Leipzig, Bernhard Tauchnitz, 1910.

PESSOA, Fernando. Novas poesias inéditas. 4a ed. Lisboa, Edições Ática, s. d.

_________. Poesias inéditas(1919-1930). Lisboa, Edições Ática, s.d.

_________. "Rubaiyat". In: Contemporânea. Lisboa, S. 3 (3), 1926.

SEVERINO, Alexandrino. "’Rubaiyat’, um poema desconhecido de Fernando Pessoa". I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos. Actas. Porto, Brasília Editora, Centro de Estudos Pessoanos, 1979.