Josef Pieper (1904 - 1997)
- Nota Editorial -

Esta edição (e sua Nota Editorial original...) já estava fechada, quando recebemos a triste notícia da morte - ocorrida na noite de 6 para 7 de novembro - do filósofo Josef Pieper, justamente considerado o principal continuador da obra de Tomás de Aquino em nosso tempo (Pieper detestava o rótulo "tomismo", precisamente por considerar que Tomás era grande demais para caber num sistema fechado, escolar, num "ismo": para ele, a filosofia cristã é philosophia negativa: mantém-nos abertos ao mysterium). Pensador incansável (é autor de mais de 60 livros, publicados em 15 idiomas), aposentou-se somente no ano passado - após longas décadas de ensino de Antropologia Filosófica na Universidade de Münster -, ao completar 92 anos e declarando com bom-humor: "Quero aposentar-me enquanto ainda estou em forma!".

Fiel ao espírito de Tomás (espírito é abertura, como continuamente lembrava o próprio Pieper...), o pensador de Münster repensou - à luz dos mais agudos desafios de nosso tempo - os temas fundamentais da filosofia: a ética (seus estudos sobre as virtudes são incomparáveis...), a arte, o trabalho, a felicidade, a festa, o culto, a universidade etc. Escritor brilhante, suas obras têm a transparência da simplicidade e a força persuasiva do concreto: para Pieper o filosofar está sempre vinculado ao fenômeno, sobretudo ao fenômeno da linguagem comum.

Nosso grupo de estudos da USP estava ligado de modo especial a Pieper. Desde 1981 - quando decidi fazer o doutoramento O que é uma Universidade: Introdução à Filosofia da Educação de Josef Pieper, Perspectiva, 1988 - tive o imerecido privilégio de sua amizade e de uma freqüente e ininterrupta correspondência. Gabriele Greggersen (editora da homepage sobre Pieper: http://www.geocities.com/SoHo/Gallery/8496/) dedicou seu mestrado - também na FEUSP - a comentar o Unaustrinkbares Licht (publicado na Revista de Estudos Árabes da USP N. 5/6); Mario Bruno Sproviero é também um ilustre cultor e tradutor de Pieper. O No. 2 da Coleção Oriente & Ocidente (DLO-FLLCHUSP, 1994) foi todo dedicado a homenagear seus 90 anos (o DLO publicou também Ética: Questões Fundamentais).

Pieper tem sido freqüentemente citado na Mirandum. Para este Suplemento, estavam já prontos o seu "A Compreensão da Filosofia"; meu discurso (também ele um tributo a Pieper) "Erziehen und Erinnern" e a nota sobre o "Não Atuar". Consultado, em urgência, o Conselho Editorial, decidimos antecipar a publicação do extraordinário estudo "Os Discípulos", um dos mais representativos da filosofia da educação pieperiana, como uma homenagem adicional a este nosso insigne colaborador e amigo.


Neste Suplemento inauguramos seções novas - em formatação compacta -, agrupadas na Parte II. O site da Mandruvá recebe visitantes de mais de trinta países e pareceu-nos oportuno incluir - nessa segunda parte de Mirandum - versões em outras línguas de alguns artigos apresentados no Corpus principal. Aquela também acolhe breves notas e comentários, bem como alguns pequenos textos de autores clássicos, traduzidos para discussão em seminário.

O presente Suplemento - também ele em co-edição com a Facultad de Ciencias de la Información de la Universidad de Navarra e com o Centro de Extensão Universitária - apresenta matérias relacionadas ao Programa Master em Jornalismo para Editores - 97. Assim, os trabalhos de Claudio Thomas e Hélio Marques somam-se às diversas colaborações - publicadas em edições anteriores de Mirandum - dos alunos do Master, destacados editores de jornais do Brasil. L. F. Barros e Moacyr Alexandro Rosa discutem aspectos concretos de uma memorável sessão do Programa de Filosofia do Master: a presentação dos Grupos de Auto-Ajuda.

A Profa. Aida Hanania descreve as peculiaridades do trabalho de edição acadêmica e Gabriel Perissé desvenda - a partir de variados pontos de vista - o fenômeno Paulo Coelho. Ainda sobre o fenômeno da linguagem, temos o acurado exame a que Mario Sproviero submete os tradicionais transcendentais da filosofia.

L. J. Lauand - Coord. Edit.

10 de novembro de 1997