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O Protestantismo e os Valores Éticos

 

Gabriele Greggersen*

 

Introdução

O título desta palestra sugere dois temas de difícil definição. Para tratarmos deles, estaremos nos valendo, particularmente para a definição de ética, de dois filósofos-teólogos, o católico alemão Josef Pieper (1904-1997) e o professor e crítico literário anglicano de Oxford C.S. Lewis (1898-1963). Para surpresa de alguns, encontramos uma sintonia fina antropológico-filosófica, quanto a este e outros temas. Para ambos a ética é, por princípio, indissociável da moral. As duas coisas reúnem-se sob o conceito clássico de “virtude”. Tanto a areté de Aristóteles quanto a virtus de Aquino estão intimamente relacionados ao caráter ou realização plena do ser e, portanto, da felicidade humana. Só mais recentemente é que ela é mais vista como “qualidade” positiva individual.

De acordo com Keenan (1998) a chamada “ética das virtudes” se destaca pelo tipo de pergunta que faz. Ao invés de levantar e discutir diretamente temas controvertidos como a guerra, a manipulação genética, o aborto e outros, ela pergunta pelo ser, a começar da questão fundamental: “quem sou eu”? Quão virtuoso sou eu”? E “quão virtuoso eu devo me tornar?” Esta ética nos ajuda a traçar objetivos e fins pessoais, que visam ao máximo de cada um, sua excelência moral, que jamais é idêntica à do outro. Assim, a ética das virtudes pressupõe que toda ação humana é moral, manifestando-se mais nas pequenas ações e decisões cotidianas do homem comum, do que nos grandes feitos. É a ação moral assim orientada que permite a convivência humana e a “comunhão dos santos”, pois cada membro deste “corpo” tem a liberdade de ser “infinitamente outro”, ao mesmo tempo em que é um com eles. De acordo com o autor, a prudência ou sabedoria, uma das quatro virtudes cardeais, que é bastante mal interpretada e ignorada hoje, é a virtude máxima, como o texto de Pieper explicita tão bem. [1]

1. O máximo de si

Das diversas vertentes e formas de abordagem da ética existentes estaremos aqui privilegiando a da ética clássica, que visa à máxima realização do ser humano, ou o ultimum potentiae. Como esclarece Lauand, esta é “... uma constante na grande tradição sapiencial do Ocidente e nas dos Orientes” [2] A grande questão que ela coloca é: Qual a areté do homem?

Esta é a pergunta central da ética das virtudes, que se revela, assim com grande potencial unificador e ladeador de diferenças culturais e também religiosas, como pretendemos destacar aqui. C.S. Lewis (1997), da mesma forma que Pieper, procurou formulá-la em Cristianismo Puro e Simples (CPS) [3] . Esta obra que resultou de uma série de palestras difundidas pela BBC de Londres na época da guerra para trazer esperança e orientação moral à população. Ao invés de falar em “ética”, no sentido teórico, Lewis discute, de forma prática, o que chama de “Lei da natureza humana”, “Lei Moral” ou “regra do comportamento humano”: o conjunto de valores que nos faz decidir sobre o certo e o errado. O pressuposto básico da reflexão sobre “Deus e o mundo” pretendida por Lewis é que todos sabem que devem ou não agir de determinadas formas e evitar outras, mas desgraçadamente não conseguem seguir estes princípios básicos plenamente.

De uma maneira geral, o livro discute os pontos comuns e imprescindíveis, comuns a todos os cristãos. Lewis procura, assim, destacar a obra redentora de Deus em Cristo, reconhecido como Deus e homem, a um só tempo. Esta busca pelo núcleo comum ou duro da fé cristã, com o qual todos os cristãos de todos os tempos concordam, procurando manter distância de controvérsias especulativas, é um traço característico de toda a obra lewisiana. Daí o “puro e simples” ou “mero” do título desta obra. Não se trata de um ecumenismo reducionista, idealista ou superficial, mas da busca pelas verdades mais simples e universais que fundamentam a perspectiva e estilo de vida do cristão.

Lewis lembra que o que distingue a visão cristã está muito relacionado à imagem que se tem de Deus. É ela que nos dá o grau de liberdade que temos para falar de religião:

Se você é um cristão, você não precisa crer que tudo nas demais religiões é simplesmente errado. Se você é ateu, então sim, você tem de crer que o ponto central de todas as religiões do mundo não passa de um enorme engano. Se você é um cristão, você é livre para pensar que todas as demais religiões, mesmo as mais excêntricas, contêm ao menos alguma alusão à verdade. [4]

Valendo-se muito dos clássicos da Idade Média, particularmente de Agostinho e São Tomás, Lewis concebe Deus como alguém a um tempo inteligível, e inescrutável ou indefinível. Não, por não ser definido, mas, pelo contrário, por ser definitivo demais. Diz a Bíblia que Ele é o que é, e ponto. Enquanto a razão humana se limita a assimilar as realidades inteligíveis e sistematizáveis, a imaginação é o “órgão” que se encarrega do sentido mais profundo da totalidade deste real, que transcende a razão. Sua função é, assim, a de unificar os aspectos espirituais, racionais, emocionais e até materiais do homem. Após explicitar os dogmas básicos do cristianismo, da criação, queda, redenção e transcendência do bem em relação ao mal (o mundo é um “território ocupado pelo inimigo”), Lewis compara os valores éticos a uma orquestra ou frota de navios bem alinhada. Ou seja, a moral é a harmonização das diferenças, visando algo de bom para todos.

A primeira das “virtudes cardeais”, a prudência, é definida como o bom senso, a capacidade de pensar sobre a ação; de refletir e considerar as coisas. Em suma, trata-se da inteligência ou sabedoria exigida de todo cristão - não que ele necessitasse de algum “diploma” para tornar-se cristão. A segunda virtude, a temperança não é a mera capacidade de abstenção dos “prazeres da carne”. Trata-se antes da abstenção de qualquer prazer que possa escravizar e homem, por mais aparentemente “inocente” que possa parecer. Também a justiça é muitas vezes reduzida a um conceito simplista, no caso, do direito ou da observância das leis, quando na verdade ela envolve uma série de outras qualidades: “honestidade, reciprocidade, veracidade, fidelidade aos compromissos, todo esse lado da vida”. [5] Finalmente, a fortaleza diz respeito à coragem, ou disposição para encarar os desafios, mas também para suportar a dor.

Por outro lado, nem todo aquele que pratica alguma destas virtudes pode ser considerado já virtuoso ou pode ter certeza da sua salvação, pois:

A questão não é que Deus recusará a admissão em seu reino eterno de quem não tenha certas qualidades de caráter; a questão é que, para quem não tiver pelo menos os primórdios dessas qualidades no seu íntimo, não haverá então condições externas possíveis que lhe façam um “Céu”, isto é, que lhe façam feliz com a profunda, forte e inabalável espécie de felicidade que Deus quer proporcionar. [6]

As outras duas partes da moral, a social e a sexual [7] consideradas pelo autor estão ambas relacionadas com o amor, que é uma das três virtudes teologais, junto com a e a esperança, analisados em capítulos separados. O tema do amor merece especial destaque na obra de Lewis. Sua dissertação de mestrado, A Alegoria do Amor (The Allegory of Love), foi dedicada precisamente ao conceito de “amor cortês”, presente na literatura inglesa medieval e renascentista. A outra obra, Os Quatro Amores, mais destinada a cristãos leigos, é muito citada também no mundo secular, principalmente pela discussão sobre a amizade. Este tema é igualmente discutido por Aristóteles, como lembram alguns revisores. [8]

Em CPS, depois de tocar em assuntos delicados e difíceis como o perdão, o casamento, o tempo e a trindade, Lewis conclui que os valores cristãos se destacam de outros conjuntos de valores, porque não se reduzem a fórmulas de como “ser bonzinho”. Eles nos remetem a um processo dialético de transformação da vida; de realização efetiva da busca do bem; de perseguição deste élan vital, que move todos os seres humanos rumo à felicidade eterna. O que está em jogo é nada menos, do que a nossa rendição e regeneração total, nossa metamorfose em “pequenos Cristos”.

Outro livro importante para compreendermos a ética de Lewis é A Abolição do Homem (The Abolition of Man). Ele a inicia, fazendo uma crítica à ao Green Book ou “Livro Verde” das virtudes, usado no passado para “ensinar” ética para as crianças. Na verdade ele promovia um relativismo moral velado. Usando argumentos e exemplos do mundo tecnológico de hoje e da literatura de ficção, ele defende que querer “reinventar” os valores morais, principalmente do passado, considerados “superados” ou criar valores absolutamente novos seria fomentar a destruição da humanidade. [9] Ao final ele traz um interessante quadro comparativo de máximas e provérbios das mais variadas culturas e épocas, que se mostram perfeitamente compatíveis e equivalentes, formando uma espécie de “Tao” re-significado pelo cristianismo. Em que medida uma ética assim universal pode ser considerada “protestante”?

2. A Ética da Reforma

Sem entrarmos no mérito das classificações mais recentes e detalhadas do protestantismo, que incluem movimentos pós-Reforma, e apesar da diversidade entre as vertentes do protestantismo, há uma unidade doutrinal essencial muitas vezes desprezada entre eles. Para evidenciar isto, basta destacar alguns dos “reformadores”, fundadores respectivamente da igreja luterana e das reformadas, sem desmerecer as outras.

Como a palavra mesmo diz, “protestante” é alguém que se manifesta efusivamente contra algo. Na verdade, entretanto, a palavra surgiu mais de uma década depois dos famosos argumentos de Lutero contra a doutrina praticada na época pela Igreja católica, que protestava contra a supremacia dos direitos dos que se chamavam evangélicos e procurava distingui-los dos “protestantes”.

Mas foi inevitável a associação posterior dos cristãos reformados aos “protestantes”. Neste sentido de protesto, quem talvez tivesse mais bem expressado o lado “protestante” da reforma, fosse Martinho Lutero (1483- 1546), que usava e abusava de recursos dramáticos e retóricos para dar vazão ao seu protesto contra os equívocos teológicos do clero. Como se sabe, depois de ingressar no nível superior, ele teve uma visão e decidiu-se pela vida monástica, para a qual parecia ter nascido. Ele costumava dizer que, se a dedicação à batina e à igreja salvasse, ele, sem dúvida, teria se salvado. Acontece que ele tinha plena consciência da incapacidade do homem de salvar-se a si mesmo, através de boas obras ou qualquer outra medida. Assim, a justificação pela fé tornou-se a base da sua ética e um dos pilares da Reforma. Para Lutero não há nada que seja válido ou existente em si mesmo. Tudo depende da graça divina e a ela responde. O agir ético é precisamente esta resposta livre e espontânea ao amor de Deus, símbolo da gratidão a ele devida. Com isto ele refutava a ética do dever e da obrigação presente em muitos seguimentos da Igreja, bem como a vida monástica, que se isola da vida e do homem comum. Para Lutero, é preciso perder a sua ética em-si-mesmada para conquistar a verdadeira. 

Foi numa sessão de auto-flagelamento, muito comum na época para purificação dos pecados, que ele se conscientizou do absurdo do que estava cometendo. Após aprofundar-se nas Escrituras, por recomendação do seu superior, coisa que não era muito comum ou simples de se fazer na época, Lutero deu-se conta da falta de fundamento bíblico de outros dogmas católicos também não coincidiam com elas. Então ele resolveu arrolar todas estas discordâncias e torná-las públicas, pregando-as na porta do templo da cidade. [10] Seus famosos 95 artigos de protesto denunciavam basicamente a venda de indulgências e outros aspectos, relacionados ao “sistema penitencial” como o purgatório e o perdão de pecados mediado pelo padre; entre outros. Ele também chegou à conclusão, de que a hierarquia eclesiástica praticada estava equivocada, manifestando-se efusivamente contra ela.

Longe de querermos entrar no mérito destas controvérsias, importa-nos lembrar a forte influência tanto da Bíblia, quanto dos clássicos no pensamento dos reformadores. Ao contrário da crítica usual de individualismo e subjetivismo em Lutero, Reardon (1995) argumenta que os clássicos não lhe permitiram entrar nesta “onda”, de fato existente na época, mas que era mais associável aos humanistas. Lutero pode ser considerado antes personalista, ou seja, acreditava em um Deus pessoal e na experiência religiosa interior. Ele se encontrava bastante distante do humanismo de sua época e muito mais próximo do pensamento patrístico, do que outros reformadores. Como se sabe, os primeiros pensadores do cristianismo buscavam uma visão unificada, extraindo do pensamento grego e romano, o que fosse compatível com a Bíblia.

Lutero é considerado por muitos estudiosos quem melhor conseguiu aproximar a doutrina católica dos ideais da Reforma, reconhecendo alguns pontos em comum, principalmente nos seus pressupostos:

O cristianismo católico da mesma forma que o protestante sempre foram inequivocamente supranaturalistas. Nenhum deles poderia ter interpretado o evangelho em termos de um humanismo ativista, já que para ambos trata-se da revelação do poder e propósito divinos. Sem Deus o homem na verdade não teria como ter conhecimento da sua própria salvação, nem aqui, nem no por vir. [11]

Embora não concordemos com a visão da maioria dos historiadores protestantes, de Lutero como “revolucionário”, no sentido de mudança deliberada, na verdade ele acabou provocando uma “revolução” na história. Além das mencionadas teses, seu questionamento da visão monolítica da Igreja Católica da época provocou uma abertura e valorização da diferença, da liberdade de pensamento e da língua vernácula. Neste sentido ele pode de fato ser considerado o fundador do protestantismo, um profeta e o mais empenhado em convencer Roma dos princípios da Reforma. Sua intenção era a de contribuir com a Igreja Católica e não a de a destruir. Ele costumava dizer que se Roma não o tivesse impedido de cumprir a sua missão e, se não fosse a Providência Divina, a Reforma não teria acontecido. De acordo com o autor ainda, Lutero não foi um reformador político, mas um gênio da vida religiosa, que preferia deixar a teologia sistemática para os outros. Ele apelava para o homem comum e seus limites, numa linguagem clara e didática, que chegava às vezes a ser considerada grotesca e rudimentar. Daí que ele já tenha sido considerado o primeiro jornalista da história.  “Meus professores”, costumava dizer ele, “são a dona de casa e seu lar”. Ele era crítico também em relação a certos humanistas do seu tempo, como Erasmo e Zwinglio, por sua tentativa de desvendar todos os mistérios acerca de Deus e da religião.

Suas doutrinas mais caras, a da justificação, da trindade e da predestinação, permaneceram atreladas a Agostinho e ao pensamento medieval por toda a sua vida. A santificação é o processo de transformação do cristão em santo, em um pequeno Cristo, o que só pode ser produzido pelas virtudes teologais, conceito presente também em São Tomás.

Além da mencionada perspectiva sobrenaturalista, que subordina o natural ao divino e não, ao controle humano, católicos e protestantes têm em comum, a centralização na soberania de um Deus triuno e pessoal, que se revela, principalmente através da Bíblia, na igreja e nos sacramentos, embora com prioridades diferentes. Estes pontos em comum pesaram muito no diálogo posterior entre católicos e protestantes.

Com ajuda de seu amigo Melancton, educador assumido, ele ajudou a organizar o sistema educacional alemão, que forma a sua base até hoje, naquelas cidades que adotaram o protestantismo oficialmente. Desta maneira, ele introduziu um modelo de ensino confessional e ao mesmo tempo, público e gratuito, pelo menos naqueles Estados que abraçaram o protestantismo oficialmente. Não é para menos que este país também se tornou o berço de pensadores fundamentais para a educação como Froebel (1782-1852), Herbart (1776-1841) e Francke (1663-1727), entre outros. Se abrirmos o leque para a Europa toda, não poderemos deixar de mencionar o mal compreendido João Amos Comênius, que foi pastor protestante, Pestalozzi, e tantos outros educadores protestantes fundamentais.

Outro traço comum a católicos e protestantes em geral é a autocrítica, a partir da literatura “pagã” e do legado da igreja primitiva. João Calvino (1509-1564) é um exemplo disso. Ele iniciou os seus estudos clássicos em Paris, mas acabou se formando em direito, por imposição do pai, em Orleans e Burges. Nunca chegou a exercer oficialmente a profissão, que resolveu abandonar para voltar a dedicar-se aos clássicos, após a morte dele. Depois da uma “conversão súbita”, passou a estudar teologia na Universidade de Paris. Mas acabou sendo expulso da cidade, voltando bem mais tarde.

Tudo leva a crer, porém que ara Calvino, “reformar” significa em última instância, “repensar”, “reavaliar”, “atualizar” aqueles aspectos da teologia que tendiam ao esquecimento e embotamento em sua época. Embora esta intenção possa parecer “denunciatória”, “pessimista” ou escandalosa para alguns, seu fim último era a “reconstrução” ou “resgate” de valores ameaçados já de extinção. Assim, a visão de mundo protestante é motivada, antes de tudo, pelo sentimento de gratidão e vontade de servir a Deus e ao próximo como resposta ao dom da graça. Trata-se, então, muito mais de um corretivo, do que de uma “revolução” religiosa.

Além de Lutero, outra influência forte sobre Calvino foi Martinho Bucer, conhecido por suas idéias ecumênicas, moderação, equilíbrio e espírito pacífico. Suas idéias inspiraram alguns conflitos de Calvino com as autoridades civis, como em relação aos assuntos morais e religiosos, que para Calvino deviam ser tratados exclusivamente pela Igreja. Ele defendia ainda que o Estado não deveria mais ser obrigado a prestar contas à Igreja. Esta por sua vez, deveria gozar de liberdade total. À semelhança de Agostinho, para Calvino a Igreja diz respeito à Cidade de Deus, enquanto o Estado não passa de um representante temporal do poder, que, em última instância, também procede de Deus. No caso extremo do poder ultrapassa os limites da liberdade humana, é dever dos cristãos reagir, para não se tornarem coniventes. Estas e outras idéias fizeram com que Calvino fosse expulso da cidade de Genebra.

Em Estrasburgo onde ficou exilado, escreveu várias obras importantes. Nesta época ele participou como consultor de encontros teológicos na Alemanha, que visavam reaproximar protestantes e católicos. Depois de alguns convites dos líderes de Genebra, ele acabou voltando para a cidade, que já era oficialmente protestante, graças, em parte, ao incentivo dos seus amigos, que o consideravam missionário para aquela cidade.

Uma das suas primeiras medidas foi elaborar as “ordenanças eclesiásticas”, pelas quais eram estabelecidos quatro ofícios na igreja: pastor, mestre ou doutor, presbítero e diácono. Sua ética “concreta” ou prática, considerava os aspectos sociais e econômicos da época, fomentando a articulação entre teoria bíblica e prática. [12]

Calvino também influenciou a cidade no aspecto civil, introduzindo leis que não versassem somente sobre deveres, mas também falassem de direitos, além de instituir o ensino público obrigatório e leis de higiene e ética profissional, trazendo certo civismo para a cidade. Com sua diplomacia ele acabou se tornando a pessoa mais procurada para resolver todo o tipo de problemas civis. Ele também lutava pela abertura de uma escola ao lado de cada igreja protestante, articulando fortemente a formação de valores éticos à educação cristã, mas também à formação cultural. Por este e outros motivos, Genebra passou assim a ser conhecida como a “cidade de Calvino”.

Na famosa Academia de Genebra fundada por ele em 1559, desenvolveu um programa de ensino unificado de nível primário, secundário e universitário. Com isto ele provava o “óbvio não dito” [13] que para ele representava a educação.Em 25 de dezembro do mesmo ano, ele recebeu o título de cidadão da cidade. No ano da sua morte (1564), a Academia contava com 1200 alunos universitários, além de 300 alunos de outros cursos.

Assim, ele alcançou muito mais do que o seu objetivo quase impossível de reformar toda a cidade. Suas idéias contagiaram também franceses, e ingleses residentes em Genebra, que por sua vez as levaram para os seus respectivos países.

Há sem dúvida elementos capitalistas neste “espírito protestante”, como destacava Weber, referindo-se à Europa da época, mas que valeriam perfeitamente para os Estados Unidos e outros países “protestantes” de hoje: pragmatismo, simplicidade, acúmulo de riquezas, devoção metódica ao trabalho, racionalismo, individualismo, visão do lucro como bênção divina. Mas isto não invalida as contribuições deste “espírito” para a época.

A história de Calvino revela, assim, implícita no seu pensamento, uma proposta educacional holística que visava à formação de bons cidadãos, capacitados intelectual e profissionalmente, além de bons ministros da Igreja. Embora o seu objetivo maior tivesse sido a formação de pastores e líderes para servir melhor à igreja e à sociedade. A Academia de Genebra admitia alunos interessados em se aperfeiçoar nos estudos clássicos, que Calvino sempre apreciou. Para ele “a formação mental e a religião, a cultura e a moralidade andavam de mão dadas”. [14] Quem sabe seja por este motivo que o calvinismo tenha sido mais bem compreendido pela Igreja Católica, do que por qualquer outro movimento reformado, tornando-se o seu “melhor oponente”.

Daí que a escola tenha procurado sempre seguir um currículo das “artes liberais”, muito semelhante ao praticado pelas escolas antigas e universidades medievais. Os níveis eram divididos em básico (Escola Privada) e superior (Escola Pública).

Segundo a visão de Calvino, todo homem, criado à imagem e semelhança de Deus tem embutido em si, a “semente da religião” [15] , muito ligada à aquisição do conhecimento. De acordo com as Institutas, em princípio, todos são capazes de aprender qualquer coisa, religiosa ou não, independente das diferenças econômicas, sociais, religiosas, etc. Acontece que o homem só chega ao conhecimento, se antes se confrontar com o conhecimento de Deus, que o conscientiza da sua limitação e necessidade de estudo. A tarefa do educador é desenvolver as faculdades humanas de forma equilibrada [16] , com vistas à restauração da imagem de Deus através da obra redentora de Cristo e regeneradora do Espírito Santo. Assim, a teologia é considerada a Rainha das Ciências. Mas este privilegiado posto, que vinha mantendo desde a Antigüidade, viria a ser totalmente perdido, com a declaração da independência da razão humana pelo movimento iluminista, positivista e naturalista. Para Calvino, a ciência, que resulta da revelação geral de Deus, não é antagônica à fé, mas até meio auxiliar para um melhor conhecimento dEle, de si e do próximo.

Ele levava tão a sério os valores reformados que provocou uma verdadeira revolução no sistema de ensino da época e na cidade como um todo. Seus alunos de Genebra chegaram a ser comparados aos “doutores da Sorbonne” [17] . “Eles aprendiam a avaliar criticamente as idéias lidas e expostas nas aulas” [18] , o que servia de alimento a novos debates teológicos, lembrando muito as quaestio disputata da Escolástica. A única restrição à liberdade de idéias era a finalidade última de glorificar a Deus, do contrário todo e qualquer conhecimento humano poderia tornar-se vão.

A Academia de Genebra foi se tornando, assim, além de centro de excelência acadêmica, como a própria cidade vinha sendo, lugar de refúgio dos perseguidos e de fomento da democracia e da representatividade do governo. Para ele, embora Lutero e Calvino tenham trilhado caminhos diferentes, chegaram ao mesmo lugar: somente a graça, a fé e as Escrituras podem levar a Deus. Ambos tinham toda a liberdade de se valer dos recursos seculares para o estudo da Bíblia, ainda que não de forma acrítica. Ambos desprezavam um excessivo apego a provas racionais, valorizando o papel do Espírito Santo como “confirmador” interno da verdade e da salvação. Calvino chegou a ser chamado de “teólogo do Espírito Santo”, pois segundo ele, sua função era a de renovar, alimentar, proteger e unificar a Igreja com vistas à glória de Deus, que a todos quer salvar.

Além de suas confissões doutrinárias, os “calvinistas” de todo o mundo passaram a defender o governo constitucional e representativo, o direito do povo à mudança de governo e a separação entre poder civil e Igreja, inicialmente limitados à aristocracia, mas posteriormente universalizados. Calvino entrou para a história como o reformador mais preocupado e empenhado em defender a ética cristã e social e evangelizar o mundo, pois acreditava, como Agostinho, que ninguém sabe quem são os “eleitos”. [19] Temos assim, mais um ponto em comum na ética católica e protestante.

Muito bem, pode estar pensando meu interlocutor, tudo isto é história lá para os Europeus, mas o que nós temos a ver com isto, que somos um país majoritariamente católico?

Talvez fosse interessante notar, neste sentido, que até os protestantes já se fizeram esta pergunta no passado: para quê enviar missionários para os países latino-americanos, que são notadamente católicos? Tanto católicos quanto protestantes Europeus falam de condições muito diferentes das nossas. Na verdade nós nunca vivemos o que foi a Reforma no seu sentido original. Assim, grande parte do que nos ficou legado do protestantismo foi devidamente “filtrado” pelo messianismo e moralismo das igrejas eletrônicas americanas.

Por outro lado, consciente ou inconscientemente, educadores respeitados como Euclides da Cunha, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, mostravam claras influências deste pensamento, via Dewey e contatos feitos na Europa. Estes pensadores perceberam que não é nada saudável e até perigoso fechar-se para as outras culturas, quer sejam americanas, européias, africanas, não importa. Eles notaram que era preciso dar voz a diferentes visões de mundo e culturas, inclusive para melhor nos identificarmos com a nossa. Não temos razões para preconceito contra as fábulas e lendas indígenas, da mesma forma como não devemos nos fechar para a mitologia grega e para os contos-de-fada e mitos europeus e nem mesmo para as versões “comportadas” de Disney. Então, por que não considerar o pensamento da Reforma, o que não significa já nos tornar Reformados.

Longe de termos pretendido aqui reduzir a questão da ética protestante aos aspectos culturais e de querer dar conta de sua extensão religiosa e teológica, sobre a qual já existe literatura suficiente e competente, gostaríamos de apelar para um recurso que consideramos o melhor que há para enfrentar questões aparentemente inesgotáveis: a imaginação.

Imaginemos um mundo em que todas as igrejas cristãs fossem iguais. Mesma liturgia, mesma tradição histórica, virtudes idênticas e problemas idênticos. Não seriam extremamente monótonas e mortas? Os cristãos não acabariam tornando-se seres exatamente contrários ao que Cristo propôs: massificados, sem criatividade ou liberdade? Não me refiro ao corpo de Cristo vivo reunido, previsto e prometido na Bíblia, e também chamado de “noiva” de Cristo. Há, no senso comum, uma freqüente confusão entre “identidade” e “unidade” ou harmonia, sem negação das diferenças. Confusão esta que devemos à dificuldade do homem moderno de ponderar e harmonizar as diferenças e à visão fragmentária, viciosa ou viciante, criadora de infinitos “ciclos viciosos”. Felizmente Deus foi tão feliz e perfeito em imprimir a sua imagem no homem, que nenhum diabo tem o poder de exterminá-la totalmente. Por que existem tantas igrejas e tendências religiosas? Por causa de Deus é que não!

Em suma, a ética protestante, considerada como parte da ética cristã mais ampla é a dos valores do não-conformismo-re(con)formante; da crítica reflexiva, mas também da re-construção de pontes ladeadoras de diferenças. Ela é muito bem conceituada por outro reformado, Paul Ricoeur, que propõe com seu “círculo hermenêutico”, a “desmitificação” as coisas, com vistas ao retorno às suas de raízes mais profundas, comuns a todos os cristãos.

 

Considerações Finais

A própria conversão de Lewis ao protestantismo é um exemplo da cooperação possível entre católicos e protestantes. Por ironia ou não, um católico romano teve um papel fundamental neste processo. Este seu colega de Oxford, J.R.R. Tolkien (1892-1973) havia se “convertido” anos antes de um lar protestante para o catolicismo, seguindo os passos da sua falecida mãe. Este “papista”, como Lewis o chamava no seu diário, quando o conheceu, viria a tornar-se o seu maior amigo. Quem sabe não foram estas “coincidências” que o levaram a dedicar grande parte de sua vida e obra ao que os cristãos têm em comum. Apesar das convincentes razões pessoais e culturais que apresentava ocasionalmente para a sua adesão à Reforma, um dos posicionamentos mais característicos do pensamento de Lewis, quanto a tais assuntos era o de não perder tempo ou deixar-se distrair por detalhes e questões inescrutáveis. Não é para menos que é esta precisamente a estratégia de Screwtape em Cartas de um Diabo a seu Aprendiz: distrair o “paciente” humano do que realmente importa: as coisas que unificam as diferentes histórias, gostos e missões de cristão individual. Daí que Lewis descrevesse a experiência de conversão, como a de quem se vê em uma espécie de “ante-sala” ou sala de espera das denominações. Somente a vocação divina mostrará a que vertente do cristianismo cada um acabará aderindo, ou em qual cômodo se instalará.

Por outro lado, este foco no comum, não impedia que Lewis, à semelhança de Lutero ou Agostinho, pudesse ser igualmente firme na sua crítica contra as heresias que andavam soltas na sua época. Eles também reconheciam a literatura e a educação como as melhores vias para manifestação do seu protesto. Não é para menos ou por acaso certamente que grande parte das sentenças de Lutero comecem por “é preciso ensinar aos cristãos que...”.

Longe de querermos denegrir católicos praticantes e honestos ou protestantes brasileiros, especialmente o que procuram ser fiéis aos princípios da Reforma, preocupam-nos aqueles que se afastam perigosamente do “mero cristianismo” proposto por Lewis e seu fundamento claramente bíblico, tanto para o lado do fundamentalismo, quanto do fanatismo religioso.

Mas o que mais precisamente significa ser protestante, além de ser um “eterno aprendiz" dos princípios da Bíblia, como fonte de autoridade doutrinal e libertação para a glorificação de Cristo?

Como destacado acima, infelizmente, o chamado “fanatismo” [20] é um fenômeno individual ou coletivo que pode ocorrer em qualquer religião, mais ou menos facilmente, e em qualquer momento da vida. Na “cidade dos homens” vive-se numa verdadeira “miscelânea” de tendências, pensamentos, etc. Somos convidados, assim, ao discernimento, sabedoria ou prudência, como já mencionado anteriormente, ao invés de nos deixar intimidar e invadir pelo medo, que leva ao fanatismo ou ao agnosticismo.

Não foi certamente o medo que moveu o movimento e a visão protestante, visto muitos mártires provaram sua fé com sangue, à semelhança dos primeiros cristãos da história, em que se inspiravam.

Os que os inspirou, antes, foi a necessidade de repensar certas práticas e doutrinas predominantes na Igreja, voltando a harmonizá-las com as Escrituras. Não é certamente por acaso que desde o início de CPS, Lewis deixa bem clara esta sua visão dos valores unificadores do cristianismo, também fomentados pelos Reformadores, embora ou precisamente porque estivessem já bastante esquecidos:

Quero advertir o leitor de que não é o meu objetivo oferecer ajuda a quem esteja hesitando entre duas “denominações” cristãs. Não lhe direi se deve ser anglicano, batista, católico-romano, metodista ou presbiteriano... A omissão é intencional... Não há mistério sobre a minha própria posição. Sou um leigo comum da Igreja da Inglaterra, nem particularmente da ala da `alta´, nem da `baixa´, nem de qualquer outra. [21]

Esta é igualmente a nossa advertência neste artigo, focado nos valores éticos do protestantismo, que, a nosso ver, buscou a atualização dos valores comuns às várias vertentes do cristianismo. Quem sabe, o protestantismo não necessite hoje de uma revisão crítica semelhante. Como bem lembra Mehl (1968), não há modelos de comportamento prontos na Bíblia. Para além das diferenças de ênfase, a busca por uma visão de homem e seu destino, ou seja, por um a antropologia filosófica, unifica todos os cristãos em torno dos grandes valores fraternalmente compartilhados. É esta pergunta pela arete do homem que, a nosso ver, dá sentido aos valores cristãos, que mobilizam cristãos de todas as vertentes para o cumprimento de sua missão transcultural e transcendente neste mundo.

 

Referências Bibliográficas

CALVINO, João, As Institutas da Fé Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984.

Campos, Heber Carlos de. “A filosofia educacional de Calvino e a fundação da Academia de Genebra”, Fides Reformata, V, n1, 2000.

GREGGERSEN, Gabriele, “Perspectivas Educacionais de João Calvino”, em Fides Reformata, São Paulo: Editora Mackenzie, V, VII, n. 2, 2002.

HUERTA, Daniel Mansuy, “La Amistad”, disponível em http://www.duoc.cl/etica/mat_apoyo/general/amistad.html, acesso em 30.06.2003.

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RICOEUR, Paul, O Conflito das Interpretações, Rio de Janeiro: Imago, 1978.

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SKINNER, B.F., Beyond Freedom and Dignity New York : Alfred A. Knopf , 1972.



* Docente do Programa de Mestrado em Teologia do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ) e do curso de filosofia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-doutoranda do Instituto de Pesquisas Avançadas da USP (IEA). Autora de Antropologia Filosófica de C.S. Lewis, São Paulo: Editora Mackenzie, 2001.

[1] Pieper, Josef, “Estar certo como Homem – as virtudes cardeais”, disponível em http://www.hottopos.com.br/videtur11/estcert.htm, atualizado em 24.02.2001, acesso em 01.09.2003.

[2] Lauand, Luiz Jean, “A Unidade da Idéia de Homem em Diferentes Culturas” , disponível em http://www.hottopos.com/seminario/sem2/jean.htm , atualizado em 18.04.2002, acesso em 01.07.2003.

[3] Lewis, C.S., Cristianismo Puro e Simples, 5a ed., São Paulo: ABU, 1997, 19. Esta obra foi traduzida por Mero Cristianismo, posteriormente pela editora Quadrante.

[4] Ibidem, p. 19. Interessante notar que Lutero disse algo muito semelhante, como veremos, e que estas alusões foram traduzidas como “inklings” para o inglês, nome dado ao clube fundado por Lewis e seu amigo e colega de Oxford J.R.R. Tolkien.

[5] Ibidem, p. 44.

[6] Ibidem, p. 44.

[7] O amor erótico e o amor a si mesmo são temas claramente visíveis em Até que tenhamos Faces (Till we have Faces), que Lewis escreveu em homenagem à esposa. Trata-se do mito de Eros, recontado, sob outra perspectiva.

[8] Ver quanto a isto interessante artigo de Huerta, Daniel Mansuy, “La Amistad”, disponível em http://www.duoc.cl/etica/mat_apoyo/general/amistad.html, acesso em 30.06.2003.

[9] Não é por coincidência então que Skinner faz uma crítica contundente a este livro de Lewis em Muito Além da Liberdade e Dignidade (Beyond Freedom and Dignity), em que ele defende que o homem não tem necessidade desta tal “liberdade” e “dignidade” que o cristianismo lhe atribui. Todas estas coisas seriam obsoletas no mundo por vir, controlado pela ciência, em que o homem declararia a sua independência definitiva da religião.

[10] Há controvérsias, se foi na porta, na parede ou se elas foram distribuídas por escrito.

[11] Reardon, Bernard M.G. Religious Thought in the Reformation, 2ª ed., New York: Longman, 1995, xii, (traduzido pela autora).

[12] De acordo com Mehl (1968) e tantos outros autores posteriores a ele, é a ética social que une católicos e protestantes até hoje. De nossa parte, acreditamos que Lewis descobriu um veio mais profundo, com sua “Lei moral”, que para o autor é precisamente o pomo da discórdia entre a moral católica e a protestante.

[13] Vide quanto a isto Greggersen, Gabriele, “Perspectivas Educacionais de João Calvino”, em Fides Reformata, São Paulo: Editora Mackenzie, V, VII, n. 2, 2002.

[14] Reardon, 1995, 152.

[15] Calvino, apud Heber Carlos de Campos, “A filosofia educacional de Calvino e a fundação da Academia de Genebra”, Fides Reformata, V, n1, 2000,  46.

[16] Campos, idem,  46.

[17] Macneill, John T., apud Campos, idem., 49.

[18] Ibid.

[19] Como se sabe, esta idéia é muito forte também em A Cidade de Deus: nem os anjos, diz Agostinho, sabem quem é cidadão da Cidade de Deus.

[20] Ver quanto a isto, artigo extremamente esclarecedor de Lauand, Jean , “Religião e Liberdade – a `Revanche de Deus´, Neo-Maniqueísmo e Fanatismo Religioso”, disponível em http://www.hottopos.com/mirand14/jean.htm, acesso em 01.07.2003.

[21] Lewis, C.S., op cit, 1997, i.