Brasil: na Espanha, "sinônimo de sexo"
01/jul/97 - 15h30

São Paulo - O Brasil é o paraíso do culto ao corpo, palco da vitória da carne sobre o espírito, da natureza sobre a cultura, da sensualidade sobre a razão. Terra prometida das prostitutas; um brasileiro privado de sua ração diária de sexo é como um beduíno sem água. Isso é o que se conclui da leitura do caderno especial de domingo do jornal espanhol El Mundo, um dos maiores e mais prestigiados daquele país. A capa do sulpemento, chamado "Revista", não dá margem a dúvidas: sobre uma foto de mulheres seminuas, lê-se: "Calor Brasil Sexo - viaje ao paraíso da sensualidade".

A revista do "El Mundo" fez ainda uma série de entrevistas com brasileiros - entre psicanalistas, antropólogos e prostitutas - sobre a "mítica sensualidade de um país que se tornou sinônimo de sexo". Essa afirmação - de que o Brasil é "sinônimo de sexo" - não é, em momento algum,colocada em debate. É apresentada como verdadeira, absoluta, indiscutível.

Um dos depoimentos mais extensos, atribuído ao falecido psicanalista Eduardo Mascarenhas, rastreia as raízes da sensualidade brasileira até a preguiça e a lassidão de mestiços e funcionários públicos,residindo em Salvador e no Rio de Janeiro, respectivamente. Mascarenhas ainda teria dito que, no Brasil, o culto ao corpo é uma "obsessão incontrolada".

Os demais depoimentos seguem pelo mesmo caminho, sempre reafirmando o estereótipo, a ponto da revista do "El Mundo" afirmar que a sexualidade é um "espelho" onde os brasileiros se vêem. Corroborando a conclusão do jornal espanhol, outro psicólogo brasileiro afirma que no Brasil há três coisas sagradas: carnaval, sexo e álcool. "Se qualquer um fosse proibido, haveria uma revolução", postula. A única tentativa de análise crítica do fenômeno aparece na frase de uma professora de literatura, que afirma que "o mito da sensualidade brasileira é um artigo de consumo, que se vende como café ou diamantes".

Complementando a série de depoimentos, há um ensaio fotográfico sobre a "sensualidade brasileira", concluído ao longo de quatro anos, informa a "Revista". Tanto as fotos como o texto são atribuídos a Christopher Pillitz. As imagens mostram mulheres seminuas, na praia ou em bailes de carnaval. São preto-e-branco, o que lhes dá um certo charme "cult".

Ao lado das piadas de brasileiro, o suplemento especial do "El Mundo" é revelador da imagem que se faz do Brasil na Europa e até mesmo - já que todo o texto do jornal espanhol é baseado em depoimentos de intelectuais e moradores "nativos" - no próprio País.

Carlos Orsi Martinho